O governo resolveu vestir a roupa de candidato no ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB). Com aval do presidente Michel Temer, que desistiu de tentar novo mandato, Meirelles vai acelerar a pré-campanha ao Palácio do Planalto a partir da próxima semana.
A estratégia está sendo montada na tentativa de tirar o foco negativo de Temer, pôr o MDB na disputa com um nome não citado na Lava Jato e testar o potencial de crescimento do ex-comandante da economia.
O primeiro passo dessa articulação ocorrerá na terça-feira, quando o partido lançará um documento batizado de “Encontro com o Futuro”, versão preliminar do programa de governo.
Impopular, Temer deve anunciar ali a desistência do projeto de reeleição, ungindo Meirelles. A candidatura, porém, ainda terá de passar pelo crivo da convenção do MDB, em julho.
A reportagem apurou que o lançamento da cartilha foi antecipado justamente para a legenda iniciar sua ofensiva política. “O presidente Temer deve oficializar o mais rápido possível a sua não candidatura, sob pena de inviabilizar uma candidatura do partido”, disse a líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS). “Estamos preocupados em manter o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado.”
A convite de Simone, Meirelles se reuniu com senadores do MDB na quarta-feira. Mostrou dados de pesquisas indicando que, embora ainda conte com menos de 1% das intenções de voto, tem chances de empinar sua campanha em um cenário no qual a centro-direita está rachada. Além disso, afiou o discurso contra seus possíveis adversários, como Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). “Ninguém quer retrocesso e há ceticismo em relação a mudanças radicais”, disse Meirelles.
Dificuldades. O movimento do Planalto e da cúpula do MDB ocorre no momento em que Temer e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) começam a se estranhar. O presidente ficou irritado com rumores de que estaria aflito, atrás do apoio dos tucanos. “Eles é que me procuraram”, reagiu.
Preocupado com o baixo desempenho de Alckmin nas pesquisas, o PSDB decidiu lançar um manifesto suprapartidário, pregando a união das candidaturas de centro. Assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique, o documento – redigido pelo secretário-geral do partido, Marcus Pestana (MG), e pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF) – defenderá a união desse bloco para evitar o avanço do “radicalismo” na campanha. “Somos o bloco dos desextremados”, brincou Cristovam.
Temer, por sua vez, pediu para o senador João Henrique Souza (MDB-PI) ciceronear Meirelles na maratona de conversas com os correligionários e procurar conter divergências. Hoje o ex-ministro irá ao encontro estadual do MDB em Campo Grande; na segunda-feira estará em Belo Horizonte e no início de junho visitará Salvador. A reunião de Meirelles com a bancada na Câmara, em Brasília, ficou marcada para o dia 29.
Pelo menos nove diretórios do MDB, no entanto, preferem que a sigla não apresente chapa própria e libere suas seções para acordos nos Estados. Nessa lista estão Alagoas, Ceará e Paraná. “Há grande divisão e muitas conversas nos bastidores, fora do radar do governo”, comentou o senador Renan Calheiros (AL), que quer subir no palanque do PT em Alagoas. “Ir com Meirelles seria suicídio político.”
Na mesma linha, o senador Roberto Requião (PR) disse que, se o ex-ministro chegar à convenção nacional, baterá chapa com ele. “Não vamos permitir esse insulto à consciência emedebista”, provocou.
Na prática, a decisão de transformar Meirelles em candidato tem objetivos bem pragmáticos. Ele diz ter condições de financiar a própria campanha, discurso que agrada às bancadas, de olho no Fundo Partidário. Não é só: o MDB precisa de um nome para chamar de seu em uma quadra na qual disputa com DEM e PSDB o apoio de aliados e quer liderar as negociações.
Animado, Meirelles contratou o marqueteiro Chico Mendez para fazer a pré-campanha e investir nas redes sociais. Foi criado o bordão “Chama o Meirelles”, para mostrar que só ele seria capaz de “apagar incêndios” no País.