Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Preterido por Lula, braço-direito de Lira ganha superpoderes na Câmara

Líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento se aproxima de empresários, é ouvido sobre uma eventual reforma ministerial e sonha em suceder Arthur Lira

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 jun 2023, 09h46
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em seu terceiro mandato, o deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) passa, há 10 anos, toda celebração de Ano-Novo na casa de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. Por sua vez, os carnavais de Lira são comemorados com o baiano, e sempre com a presença dos respectivos familiares. A dupla inseparável faz pelo menos seis viagens por ano, conversa todos os dias, define a agenda legislativa e, a depender do humor com o governo de turno, encaminha um pacote de maldades ou de bondades que será levado adiante.

    Tamanha proximidade foi decisiva para a primeira rusga entre o presidente da Câmara e o governo Lula. Ainda durante a transição, Lula convidou Nascimento para assumir o disputado Ministério da Integração. À época, o presidente repetia o mantra de que vivia uma nova fase e que estava disposto a abrir uma frente multipartidária, de modo a dar abrigo inclusive aos adversários. Na campanha de 2022, o deputado baiano havia apoiado Jair Bolsonaro e chamado Lula, entre outros impropérios, de corrupto e ex-presidiário. Eram águas passadas, dizia o petista, que reforçava que aprendeu na cadeia o poder do perdão.

    Dias depois, e sem nenhuma explicação, a pasta prometida a Elmar Nascimento acabou entregue ao ex-governador do Amapá Waldez Goés, aliado de primeira hora do senador Davi Alcolumbre (União-AP). A rejeição, creditada ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, de quem Elmar é adversário, nunca foi perdoada. Para piorar, o filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), de quem Lira é um inimigo notório, ganhou o Ministério dos Transportes. Como mostrou VEJA, a reação era esperada: “Eu conheço o Arthur. Se o arqui-inimigo dele no estado tem um ministério, se não der dois para ele não tem nem conversa”, cantou a bola um aliado de Lira, ainda em fevereiro.

    Na última semana, a crise entre Lira e o governo Lula atingiu seu ápice, e o presidente da Câmara promete, como disse a aliados, “machucar” ainda mais nos próximos dias. Sabendo do recado, o governo avalia promover uma reforma ministerial. Na quarta-feira, 31, Lula chamou Elmar Nascimento para uma conversa e propôs que ele, que é líder do União Brasil, coordenasse a redistribuição de ministérios do partido. O União ocupa três cadeiras na Esplanada, mas, desde o início do ano, Elmar reclama que nenhuma das pastas foi indicada por ele ou por deputados.

    O entorno de Elmar Nascimento defende que ele próprio assuma um ministério. O nome é lembrado, por exemplo, para a articulação política, visto que o atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, é alvo de duras críticas no Parlamento. O baiano, no entanto, nega a intenção de assumir a pasta.

    Continua após a publicidade

    Enquanto isso, Nascimento é cacifado para participar de importantes encontros com deputados, ministros e figurões do PIB. Na reta final sobre as negociações do arcabouço fiscal, por exemplo, ele ajudou a organizar uma reunião para que o projeto fosse apresentado a empresários como Benjamin Steinbruch, da CSN, e Rubens Ometto, da Cosan. Também participou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas o criticado articulador político, Alexandre Padilha, não estava lá.

    A portas fechadas, o deputado fez um discurso quase de quem domina a Câmara e prometeu que, mesmo em meio a turbulências com o governo Lula e eventuais derrotas que seu grupo poderia impor, a agenda econômica estaria blindada. Os endinheirados gostaram do que ouviram. Ao mesmo tempo, em meio à resistência do partido de Lula, enviou o recado ao Planalto de que o Centrão exigia que o PT votasse em peso pelo novo marco fiscal – o que acabou se confirmando.

    Elmar Nascimento também assume outras missões. Em um jogo com Lira, que resistia a deixar suas digitais na CPI Mista do 8 de janeiro ao mesmo tempo em que queria ingerência na comissão, foi indicado Arthur Maia (União-BA) para o comando do colegiado, um fiel escudeiro de Elmar. Além disso, ele também empreendeu esforços para que ficasse sob o seu partido a relatoria da medida provisória que trata do Minha Casa, Minha Vida, e já barrou a iniciativa do governo de embutir um “jabuti” no texto que acabava com o saque aniversário do FGTS.

    Continua após a publicidade

    Mas nem todas as atribuições dão certo. Nos últimos dias, ele tentou, ao lado do senador Davi Alcolumbre, uma bandeira branca entre Arthur Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Aliados dos presidentes das Casas afirmam que a relação dos dois, que mal conversam desde o início do ano, melhorou, mas está longe de ser amigável.

    O deputado baiano também é conhecido por seu corporativismo dentro da Câmara. No ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal se preparava para julgar a ação que levaria ao fim do chamado orçamento secreto, ele chegou a ameaçar barrar o aumento do salário dos ministros caso a ação andasse. Era bravata. O modelo acabou declarado inconstitucional pela Corte, mas Elmar, como relator da PEC da Transição, que ampliou o espaço fiscal para abrigar as promessas de Lula, garantiu o remanejamento de 20 bilhões de reais para os parlamentares, de modo que eles não perdessem a ingerência sobre o Orçamento federal.

    Além disso, Elmar conseguiu, mesmo no governo Lula, manter sob seu domínio a Codevasf, reduto do Centrão pelo qual foi escoada uma relevante fatia do orçamento secreto e que é alvo de investigações da Polícia Federal sob a suspeita de desvio público. O comando da estatal foi conquistado durante o governo de Jair Bolsonaro, quando o ex-capitão tentava formar uma base aliada, e no entorno de Lula todos diziam que ninguém mexeria na indicação de Elmar.

    A ingerência na Codevasf, na prática, garante também a Elmar uma influência direta sobre os deputados, que precisam da liberação de seus recursos em obras nos estados. A influência é vista como mais um passo para o deputado baiano se cacifar para seu próximo objetivo: ser eleito presidente da Câmara dos Deputados em 2025. Hoje, ninguém nega que ele é um dos nomes preferidos por Arthur Lira para assumir o posto.

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.