A prisão do ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco é mais um capítulo da derrocada do MDB fluminense. A legenda que já foi poderosa a ponto de indicar ministros e influenciar eleições presidenciais sobrevive, hoje, com apenas cinco deputados estaduais e três membros na bancada federal. E diante das prisões de diversos caciques, corre risco de perdê-los.
Moreira Franco esteve na noite de quarta-feira, 20, em uma reunião da Executiva Nacional do MDB, em Brasília. Quem estava presente diz que o ex-ministro dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer estava tranquilo, e não fez uso da palavra no encontro – preparação para convenção nacional da legenda, em setembro.
Desde que saiu do comando do MDB do Rio, em 2004, Moreira passou a dedicar mais tempo às atividades intelectuais do que à vida partidária. Até novembro de 2017: naquele mês, a prisão do ex-deputado estadual Jorge Picciani, principal articulador do partido e abatido pela Lava Jato, se tornou uma oportunidade. Próximo do então presidente Michel Temer, Moreira Franco abriu disputa com Leonardo Picciani, filho de Jorge, e Marco Antônio Cabral, filho do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro de 2016, pelo controle do partido. Não conseguiu.
Primeiro político do PMDB a assumir o governo do Rio após a redemocratização (1986 – 1991), Moreira Franco presidiu a legenda até 2004, quando articulou para que Anthony Garotinho assumisse seu lugar. Depois de Garotinho, Picciani assumiu o posto. Dos três, só Garotinho está solto – embora já tenha passado três breves temporadas na cadeia.
O ocaso do MDB já ficou exposto nas bancadas eleitas em 2018, sombra dos tempos em que Cabral e Picciani deram as cartas no estado: apenas cinco parlamentares foram eleitos. “O MDB precisa ser repensado”, resumiu à VEJA o deputado estadual Max Lemos, considerado o político com mandato mais próximo de Jorge Picciani. O partido conta, ainda, com três deputados federais fluminenses. Para se ter ideia, em 2014 o então PMDB elegeu 15 deputados estaduais – mais de 20% da Assembleia Legislativa do Rio – e nove deputados federais, três vezes mais que em 2018.
É difícil prever o futuro da legenda que viu seus principais líderes serem presos por suspeitas de corrupção. Antes de Moreira Franco, o último foi o também ex-governador do Rio Luiz Fernando Pezão, em novembro passado, a poucos dias do fim de seu mandato. Entre tantos presos, de líderes regionais a nacionais, há ainda Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados preso desde 2016, figura influente ao apadrinhar vereadores e prefeitos de cidades do interior.
Para não cair de vez no ostracismo, o partido discutirá mudanças em seu estatuto na próxima convenção nacional, marcada para setembro. Deve ser debatida – só agora – a colocação de uma cláusula para lidar com os investigados e denunciados por corrupção. Presidente do MDB no Rio, Leonardo Picciani disse à VEJA que o momento exige “tranquilidade”. “A gente deve evitar açodamento. São processos que ainda não se concluíram. Quem for condenado irá cumprir a sua pena, e se alguém for inocentado, será tratado como inocente”.