Um dos coordenadores da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Carlos Fernando dos Santos Lima afirma que até 350 novos inquéritos serão iniciadas em decorrência das delações premiadas de 77 executivos do Grupo Odebrecht, revelando como a corrupção percorre todo o espectro político, das menores cidades aos escalões mais altos do governo.
Santos Lima diz que os relatos da Odebrecht ampliam as investigações para muito além das expectativas e que irão envolver membros de destaque do Executivo e do Legislativo, entre outros políticos, como governadores de estado.
Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de 83 novas investigações contra políticos baseadas nos depoimentos, ainda sigilosos. Janot ainda solicitou que outros 211 casos em potencial sejam encaminhados a instâncias inferiores.
“Eu diria que, entre os casos que vão ao Supremo e os que ficam aqui em Curitiba, eu calcularia que em torno de até 350 novas investigações vão começar”, estima Santos Lima.
O procurador prevê que as novas investigações irão contemplar vários outros países que ainda não investigam a Odebrecht e que os depoimentos dos ex-executivos do conglomerado vão mostrar como a corrupção é endêmica em todos os níveis de governo, do municipal ao federal.
“Agora vai ficar sem nenhuma dúvida o grau de extensão da corrupção no sistema político brasileiro em todos os níveis, isso vai ser colocado à vista de todos”, observa.
“A Lava Jato em si não vai mudar nada, ela vai revelar a extensão do que acontece, o que tem que mudar é a própria democracia”, afirma Santos Lima. “A população brasileira tem que decidir se vamos continuar sendo enganados, ou realmente nós vamos atrás de alguma coisa maior que é mudar”, completa.
Lista de Janot
Sobre a lista encaminhada por Rodrigo Janot ao Supremo, o procurador afirma que os congressistas vêm trabalhando há meses para minar a Lava Jato, tentando aprovar medidas de anistia. Para Santos Lima, a reação deve sofrer um baque após a revelação dos nomes que o procurador-geral quer investigar.
“Assim que se souber quem não está envolvido, o clima entre aqueles que não estão sob investigação ficará mais positivo, e acredito que verão que é inútil tentar aprovar anistias ou outras medidas para permitir que aqueles que são corruptos escapem da Justiça”, afirma.
(com Reuters)