PT fecha acordo com PSB e Ciro Gomes sofre mais um revés
Em troca da neutralidade de socialistas, petistas vão retirar candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco e apoiarão o PSB em 4 estados
Em mais uma derrota para o candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, o PSB vai anunciar a neutralidade no 1º turno da disputa pelo Palácio do Planalto. O partido fechou um acordo com o PT nesta quarta-feira, 1º, e se comprometeu a não apoiar nenhum presidenciável na primeira parte da corrida eleitoral. Sem aliança com outros partidos, Ciro terá apenas 5% do horário eleitoral – cerca de 36 segundos em cada bloco de 25 minutos.
A Executiva Nacional do PT confirmou que anunciará hoje os termos do acordo com os socialistas. A candidatura da vereadora do Recife Marília Arraes ao governo de Pernambuco já foi retirada, por 17 votos a 8, em reunião da cúpula petista.
O gesto era visto como fundamental à neutralidade do PSB, que tem como um dos principais objetivos no pleito de outubro a reeleição do governador Paulo Câmara. Com a força do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste, a presença de Marília na disputa era vista como um obstáculo considerável a Câmara.
O vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), disse que a neutralidade do PSB “não é suficiente, mas é um passo para unificar a esquerda do país”. De acordo com Guimarães, o PT decidiu apoiar candidatos pessebistas aos governos de quatro estados: Paraíba, Amapá, Pernambuco e Amazonas.
Em troca, além da neutralidade, o PSB vai retirar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais, o que beneficia o governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), que tentará a reeleição. A sigla também vai liberar seus diretórios a se aliarem a candidatos do PT. A estimativa é que em catorze estados pessebistas estejam no mesmo palanque que petistas.
“Com esse gesto do PT, não vai ter nenhuma disputa no domingo. Posso garantir que vamos optar pela neutralidade”, disse o deputado Julio Delgado (PSB-MG). O PSB marcou sua convenção nacional para domingo, 5.
A movimentação política também beneficia o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que desde o início do processo eleitoral rejeitava a aliança do partido com outra legenda de esquerda. Com a neutralidade, França poderá apoiar livremente a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), seu antecessor no cargo.
Já Ciro Gomes, que tinha como prioridade um acerto com o PSB, agora deve contar com o apoio de poucos diretórios do partido, como Distrito Federal e Espírito Santo.
‘Ataque especulativo’, diz Marília Arraes
A vereadora recifense Marília Arraes classificou como “ataque especulativo” a divulgação do acordo entre as direções nacionais do PT e do PSB.
Em vídeo divulgado na tarde desta quarta-feira, momentos antes da votação que decidiu pela retirada de sua candidatura, Marília afirmou que mantém seu nome na disputa ao governo e convoca os delegados do partido a comparecerem nesta quinta-feira ao encontro do PT pernambucano, que vai decidir sobre a candidatura própria ou apoio à reeleição do governador Paulo Câmara.
Embora avaliações internas mostrem que a vereadora tem maioria entre os delegados, ela não tem poder diante de uma resolução nacional do partido. “Este é mais um grande ataque especulativo para desmobilizar a nossa militância, a base de delegados que amanhã vai decidir se o PT vai ter candidatura própria ou vai à aliança”, diz ela.
Resolução do diretório nacional do PT diz que as candidaturas estaduais estão subordinadas à política de alianças nacional mas a direção petista busca uma saída negociada para evitar sequelas. Marília promete resistir. “Estamos firmes. Não vamos deixar que a esperança do povo de Pernambuco seja usada como moeda de troca”, diz ela. “É importante que você delegado venha votar amanhã e aprove a candidatura própria”, completa a vereadora, neta do ex-governador Miguel Arraes.