Queiroz paga despesas médicas com recursos próprios, diz defesa
Reportagem exclusiva de VEJA revelou o paradeiro do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ); advogado afirma não saber onde cliente está hospedado
A defesa do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), afirmou, na sexta-feira 30, que ele paga as despesas médicas no hospital Albert Einstein “com recursos próprios e, quando possível, com o plano de saúde dele”. Em janeiro, quando fez a cirurgia para tratar o câncer de cólon, Queiroz pagou 64,6 mil reais em dinheiro pelo procedimento.
Reportagem de capa de VEJA desta semana revelou o paradeiro de Queiroz. Na segunda-feira 26, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi ao Centro de Oncologia e Hematologia do hospital Albert Einstein, onde faz um tratamento contra um câncer. Ele reside no Morumbi, o mesmo bairro da Zona Sul de São Paulo onde se encontra o Einstein. A proximidade facilita os deslocamentos até o hospital, normalmente feitos de táxi ou Uber. De natureza delicada, o caso Queiroz é prioritário para Bolsonaro desde antes de sua posse no Palácio do Planalto.
Queiroz trata uma neoplasia com transição retossigmoide, o mais comum entre os tumores de intestino. Acomete uma a cada dezesseis pessoas até os 90 anos de idade. Ele está localizado no intestino grosso, próximo da saída do reto. Manifesta-se, em geral, por sangramentos. A gravidade é definida não tanto pelo tamanho do tumor, mas se (e quanto) ele atingiu os gânglios linfáticos — há gânglios linfáticos próximo ao reto. Nesse caso, o risco de metástase é alto.
Em nota, o advogado Paulo Klein, que defende o ex-assessor, disse que “recebe com tranquilidade as informações recentemente veiculadas, uma vez que só comprovam que o que vem sendo dito é absolutamente verdadeiro”. A defesa, no entanto, deixou de responder a outras perguntas relacionadas a Queiroz: afirmou não saber em que imóvel ele está hospedado na capital paulista, quem paga pelo imóvel e quem o acompanha no dia a dia do tratamento médico. A justificativa é que essas informações não estão relacionadas com o âmbito jurídico do caso.
Para interlocutores, a localização do ex-assessor ajuda a afastar teorias de que teria sido morto, saído do país ou se escondido em áreas dominadas por milícias no Rio de Janeiro.
Queiroz relatou a interlocutores que sua família tem sofrido com esses boatos. Um deles foi reforçado, inclusive, pelo deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), que saiu do PSL há duas semanas. “Onde está enterrado o Queiroz?”, questionou o parlamentar.
Pessoas próximas ao ex-policial militar demonstraram incômodo com o mote “Onde está o Queiroz?”, usado com frequência pela oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, pai de Flávio. Alegam que ele nunca fugiu, apesar de se recusar a falar com a imprensa e de ter faltado a depoimentos marcados pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) – ele apresentou a defesa por escrito.
A descoberta do paradeiro e a tranquilidade que Queiroz demonstraria ao transitar pelo hospital ajudaram a desconstruir a ideia de que ele seria um foragido da Justiça, dizem os interlocutores. Eles argumentam que, mesmo estando há mais de oito meses sem dar declarações e do mistério em torno de onde havia se estabelecido, o ex-assessor não tem nenhuma obrigação formal de “aparecer”.
Jair Bolsonaro
Neste sábado, 31, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou pela primeira vez após a reportagem exclusiva de VEJA. “Pelo que eu sei, ele já prestou depoimento por escrito e, pelo que fiquei sabendo, eximiu meu filho de culpa”, afirmou, em conversa com jornalistas antes de deixar o Palácio do Alvorada.
Bolsonaro disse ainda que as dúvidas em relação ao dinheiro movimentado nas contas de Queiroz estão “resolvidos”. Ele afirmou que o ex-assessor repassou uma conta que tinha com uma construtora para a Caixa. “Não tem 1 milhão de reais, isso é uma operação normal, isso está resolvido”, acrescentou.
Além disso, o presidente defendeu que os depósitos de menos de 2 mil reais encontrados na conta do assessor foram feitos porque esse é o limite para depósitos em envelopes em caixas eletrônicos. “Não é para fugir do Coaf, que o limite é 10 mil reais”, acrescentou. Bolsonaro também citou compras de imóveis por Queiroz e completou: “Se funcionários botavam dinheiro na conta do Queiroz é problema dele, ele que responda”.
O presidente lembrou que conhece o ex-assessor desde 1984 e que nunca teve problemas com ele. Ele negou que tenha feito contato com Queiroz. “Não sei de Queiroz. Quem responde por ele é ele, não sou eu. A Veja descobriu como se ele estivesse foragido”, disse. “Não existe telefonema meu para ele, nada, não sei onde ele está”.
Coaf
Queiroz é pivô de uma investigação aberta pelo Ministério Público do Rio após a descoberta de movimentações “atípicas” na sua conta. Quando foi suspenso pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, em julho, o caso estava na fase de análise da quebra dos sigilos bancário e fiscal de 85 pessoas e nove empresas ligadas ao gabinete e às transações imobiliárias de Flávio. O MP não havia feito a denúncia do caso. As suspeitas são de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
(Com Estadão Conteúdo)