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‘Queriam alguém para falar abobrinha?’ diz Bolsonaro sobre discurso na ONU

Presidente também afirmou que não considerou sua fala agressiva e voltou a criticar Raoni: 'Não fala a nossa língua'

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 26 set 2019, 16h04 - Publicado em 26 set 2019, 15h44

O presidente Jair Bolsonaro demonstrou incômodo com as críticas que recebeu pelo seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, na última terça-feira, 24, em Nova York, nos Estados Unidos. Ele afirmou ter assistido a sua fala novamente e que não considerou suas posições agressivas. “Queriam alguém lá que fosse para falar abobrinha, enxugar gelo e passar o pano?”, questionou. Para ele, alguns setores da imprensa “foram para o esculacho”.

“Não fui ofensivo com ninguém. Assisti ao que eu falei, seria muito mais cômodo eu fazer um discurso para ser aplaudido, mas não teria coragem de olhar para a cara de vocês aqui”, disse, se dirigindo a apoiadores que o aguardavam na saída do Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira, 26. “Foi um discurso patriótico, diferente de outros presidentes que me antecederam, que iam lá para ser aplaudidos e nada além disso”, afirmou Bolsonaro.

Após criticar o cacique Raoni Metuktire na Assembleia-Geral, o presidente voltou a questionar a posição de liderança do indígena nesta quinta-feira, 26, e afirmou que ele “não fala a nossa língua”. Para Bolsonaro, Raoni não expressa os anseios de todos os índios.

“Raoni fala outra língua. Não fala a nossa língua. É uma pessoa que está com uma certa idade avançada, vamos respeitá-lo como cidadão. Mas ele não fala pelos índios. Cada tribo tem um cacique”, disse “Levei uma índia lá [para a Assembleia-Geral], a Ysani Kalapalo, não existe mais o monopólio do Raoni”, afirmou.

Durante a fala na ONU, Bolsonaro já havia falado que “o monopólio do senhor Raoni acabou”. Ele também enalteceu Ysani Kalapalo como alguém com “prestígio das lideranças indígenas interessadas em desenvolvimento, empoderamento e protagonismo”. No entanto, a escolha de Ysani como representante foi questionada, em carta, por dezesseis povos habitantes do Xingu.

Também nesta quinta, Bolsonaro relembrou um outro documento sobre indígenas que leu durante o seu discurso na ONU. De acordo com o presidente, os índios “querem sair da escravidão, esmola de ONG, Bolsa Família e cesta básica”. “A carta que eu li é muito importante e não foi dado o destaque na mídia. É uma carta dos índios produtores rurais”, disse.

Bolsonaro falou com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, pela manhã. Antes de seguir para compromissos no Planalto, o presidente passou por exames no Hospital da Força Aérea de Brasília (HFAB).

Congresso

O presidente admitiu que o governo tem enfrentado algumas derrotas no Congresso Nacional, mas disse considerar isso “normal na democracia”. “Muitas pautas que nos interessam estão avançando no Parlamento e outras não, o que é normal da democracia. Não posso impor a minha vontade em tudo, até porque se um dia alguém com sentimento de ditador chegar no meu lugar vai querer impor sua vontade também. O parlamento tem um freio necessário, às vezes a gente não concorda, mas tem que respeitar”, disse Bolsonaro.

O mandatário ressaltou, ainda, que os Poderes são independentes, mas que mantém diálogo com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. “Cada chefe é responsável por conduzir o seu Poder, e eu converso com todos. Estou tranquilo com a minha consciência que estou buscando fazer o melhor para o meu país”, finalizou.

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