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Recife: debate decisivo tem aceno a evangélicos e brigas de família

Em clima de pinga-fogo, João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) disputam uma das eleições mais acirradas da história da capital pernambucana

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 nov 2020, 06h26

Para fechar com chave de ouro uma das eleições mais disputadas da história do Recife, os candidatos-primos Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB) utilizaram o último debate, realizado pela TV Globo na noite desta sexta-feira, dia 28, para tentar se cacifar junto ao eleitorado mais conservador que não votou neles no primeiro turno. Embolados no segundo turno, os dois candidatos dedicaram boa parte do tempo para dizer que são bons cristãos e que pretendem fazer parcerias com as igrejas no tratamento de usuários de drogas.

“Cristã eu sou, e você sabe bem disso, apesar de ter atacado minha fé na televisão”, declarou Marília, referindo-se a uma propaganda veiculada pela campanha de Campos que pinçou uma frase dela posicionando-se contra ler passagens bíblicas na Câmara Municipal. Campos rebateu e insistiu na acusação: “Eu nunca critiquei a fé de ninguém. Nós só colocamos uma fala que a candidata fez. Quem quis tirar a Bíblia foi ela”.

No primeiro turno, Campos superou Marília por uma margem muito pequena de votos – em torno de 10.000. Eles disputam agora uma fatia de mais de 320.000 eleitores que votaram em Mendonça Filho (DEM) e a Delegada Patrícia (Pode). Mirando o mesmo alvo, os dois candidatos passaram a investir nos sentimentos anti-PT e anti-PSB da população – as duas legendas governaram a cidade por mais de 20 anos. Campos, por exemplo, tentou associar Marília aos escândalos de corrupção do PT e aos “figurões” da legenda de São Paulo. Já Marília bateu na tecla de que Campos “parece muito” com o prefeito atual Geraldo Júlio (PSB), que tem altos índices de rejeição e cuja administração é investigada por irregularidades na compra de respiradores.

A resposta dos dois postulantes veio na mesma linha. João frisou que não é Geraldo Júlio e que essas questões têm que ser tratadas com a atual gestão e não com ele: “Compare com o meu mandato, com a minha vida pública”. Marília, por sua vez, afirmou que representa “o novo” do PT. “Não é arrogância, é firmeza”, disse.

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Os ataques trocados pelo bisneto e a neta do ícone da política pernambucana Miguel Arraes não se focaram apenas na briga entre PSB e PT, que nos últimos pleitos saíram coligados. Marília lembrou dos bens bloqueados do espólio do ex-governador Eduardo Campos – primo dela e pai de João –   e comentou que, quando ela entrou na vida pública, o seu concorrente estava “no colégio”; e que ele era manipulado “sob cabresto”. João reagiu, dizendo a todo tempo que estava “impressionado” com os ataques pessoais e com a “campanha de ódio” da adversária e que era vítima de preconceito por ser jovem – ele tem 27 anos.

Ao fim do debate, ficou evidente a mágoa recíproca que há entre os dois candidatos que, além de primos, são colegas na Câmara dos Deputados – uma rivalidade que transcende o ringue político e deve permanecer após as eleições.”Eu achava que a candidata Marília era capaz de tudo, mas ela me surpreende”, disse Campos. “Eu dou graças a Deus que a minha filha não tem idade suficiente para entender o que vocês colocaram contra nós”, afirmou Marília.

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