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Rodrigo Maia: ‘Bolsonaro fala a nichos. A sociedade tem outra pauta’

Em entrevista a VEJA, deputado diz que o presidente ‘foca muito esses temas que são mais do cotidiano e não olha para uma agenda de longo prazo’

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 15h52 - Publicado em 21 jun 2019, 07h00
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  • O deputado Rodrigo Maia falou a VEJA, na quarta-feira 19, na residência oficial do presidente da Câmara. A seguir, os principais trechos da entrevista.

    Depois de quase seis meses de governo, o senhor consegue dizer qual é a agenda do presidente Jair Bolsonaro para o país? O presidente tem uma agenda muito voltada para os segmentos da sociedade que o levaram ao Palácio do Planalto. Ele fala a nichos bem específicos. Fala ao caminhoneiro, ao pessoal das armas, aos evangélicos, aos militares. Foca muito esses temas que são mais do cotidiano e não olha para uma agenda de longo prazo. Já a sociedade tem outra pauta. Está preocupada com o desemprego, a conta de luz, a violência nos bairros. A gente precisa ter responsabilidade com a recomposição dos serviços públicos e a geração do emprego. É essa a intenção da agenda que está sendo proposta pelo Congresso.

    O governo não está preocupado com isso? O presidente representa setores da sociedade com estabilidade no emprego, como as Forças Armadas e os policiais militares. Bolsonaro nunca falou aos brasileiros mais simples. O ministro Paulo Guedes menos ainda. Acho que está faltando alguém que consiga elaborar uma política para a base da sociedade, para as famílias que ganham dois ou três salários mínimos. A situação social no Brasil é de tamanha calamidade, a ponto de eu chamá-la de colapso social, que não dá para ficar perdendo tempo com uma agenda transversal. Quero priorizar uma agenda para o emprego e para a redução de desigualdade.

    O senhor não teme que sua iniciativa seja interpretada como uma disputa de poder? Não há aqui nenhuma intenção de que a Câmara e o Senado ocupem o espaço do governo, até porque muitos temas são de exclusividade do Poder Executivo. A democracia é um espaço onde se constroem maiorias. As vitórias absolutas existem em ambientes autoritários. Queremos trabalhar de forma integrada com o governo. Onde houver convergência, ótimo, mas também atua­remos com independência. E independência, como a própria palavra diz, não é submissão.

    Há convergência sobre a necessidade de uma reforma da Previdência, mas o governo não gostou das mudanças feitas pela Câmara no texto. O ministro Paulo Guedes nunca participou da política. Ele sempre foi um operador de mercado, e operador de mercado atua sozinho, ganha e perde sozinho. Quando você legisla, legisla em nome de terceiros e representa setores da sociedade que muitas vezes pensam de forma diferente da do ministro e do presidente. Nós respeitamos as opiniões dos dois e achamos importante o governo participar dos esforços pela aprovação da matéria, mas a reforma será majoritariamente o texto construído pelos líderes de partido, até porque a articulação política do governo é precária. Se o governo insistir na antipolítica e bater toda vez que o resultado da votação não for 100% o que ele quer, paciência, a gente vive numa democracia, graças a Deus. Podem fazer o discurso que quiserem, mas o Parlamento tem autonomia para, de maneira respeitosa e harmônica, organizar a pauta.

    Quantos votos o governo tem hoje na Câmara? Com o governo trabalhando bem, telefonando para deputado e fazendo política, deve ter entre 100 e 150 votos. No osso, pode ser que tenha menos.

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    A mudança da articulação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo pode melhorar esses números? O problema da articulação política não é do ministro, mas do governo. O presidente Bolsonaro fez grandes ministérios e delegou poderes a esses ministros, acreditando que eles conseguiriam organizar a administração. A gente sabe que isso não é tão fácil sem a participação direta do presidente.

    A reclamação do ministro Guedes, então, não faz sentido?  Eu não entendi. O texto apresentado pelo relator é inimaginável para um governo que não tem base e para um tema tão difícil. Não sei se o que incomodou o Guedes foi a retirada do regime de capitalização ou o fato de ele pensar que poderia ter uma vitória absoluta no Congresso. As vitórias, como eu disse, são construídas em conjunto.

    Por que o senhor reagiu à crítica dele? Respondi em nome do Parlamento, e a minha voz não mudou de tom em nenhum momento. Se a reforma da Previdência for aprovada, o protagonismo será do presidente da República e dos deputados, que foram eleitos. O ministro não foi eleito, foi escolhido. A Câmara e o Senado estão conseguindo gerar um mínimo de estabilidade necessária, enquanto o Executivo fabrica as próprias crises.

    Antes das votações que considera prioritárias, o governo costuma estimular as redes sociais a pressionar os parlamentares. Essa estratégia incomoda o senhor? Não dá para ficar preocupado com redes sociais. Se elas estivessem certas, o decreto de armas não teria caído no Senado, como aconteceu. A representação média da sociedade não está nas redes sociais, mas no Parlamento. É ali que se constroem as maiorias, sem vitórias absolutas. A pressão faz parte da democracia. O que não é democrático é ameaçar, agredir verbalmente. É até interessante. Eles (os bolsonaristas) divulgam os nossos números de celular sem nossa autorização, mas alegaram que houve invasão de privacidade quando revelaram as conversas do ministro Sergio Moro.

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    Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640


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