Em suas delações premiadas fechadas com a Procuradoria-Geral da República e tornadas públicas nesta quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, detalham como receberam, via caixa dois, 38,6 milhões de reais das campanhas municipais dos candidatos petistas Marta Suplicy (hoje no PMDB) e Gleisi Hoffmann, em 2008, e Fernando Haddad e Patrus Ananias, em 2012.
Veja o que o casal disse sobre cada um deles em suas delações:
Marta Suplicy (São Paulo, 2008)
João Santana declarou à PGR que a hoje senadora pelo PMDB paulista participava ativamente das tratativas relativas ao financiamento de sua campanha em São Paulo em 2008 e tinha conhecimento dos pagamentos de caixa dois intermediados pelo ex-ministro Antonio Palocci.
Segundo Mônica Moura, a comunicação política da campanha de Marta à prefeitura paulistana naquele ano custou 18 milhões de reais, dos quais 10 milhões de reais pagos “por fora”, sem declaração à Justiça Eleitoral. “Como usualmente acontecia, Antonio Palocci exigiu que Mônica Moura recebesse parte deste valor por fora: uma parte em dinheiro em espécie entregue em São Paulo e uma parte seria paga pela empresa Odebrecht que, novamente, exigiu que fossem realizadas transferências no exterior”, diz a delação.
O dinheiro do caixa dois entregue em espécie em São Paulo foi repassado aos marqueteiros, de acordo com Mônica, por Edson Ferreira, então tesoureiro do PT paulista, e Juscelino Dourado, ex-assessor de Palocci. Os valores pagos pela empreiteira foram depositados na offshore Shellbill, mantida pelo casal na Suíça.
Os 7,5 milhões de reais restantes devidos pela campanha da senadora, por orientação dela própria e de Palocci, teriam sido encaminhados por Ferreira e declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Santana também relatou à PGR um pedido “curioso” de Marta Suplicy: que ele contratasse o então marido dela, o argentino Luis Favre, “que precisava de emprego regular por ser estrangeiro”. De acordo com o delator, Marta disse a ele que o salário pago pela empresa de marketing político a Favre a título de consultoria, 20.000 reais ao longo de um ano, seria compensado no dinheiro “por fora” pago ao marqueteiro.
Gleisi Hoffmann (Curitiba, 2008)
João Santana relatou aos procuradores que não queria trabalhar na campanha da senadora Gleisi Hoffman à prefeitura de Curitiba em 2008 porque a petista “não tinha chances de vitória” e ele já estava comprometido com a campanha de Marta Suplicy, mas que acabou convencido por Antonio Palocci e o ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi e responsável pela interlocução com os marqueteiros em assuntos financeiros.
De acordo com o delator, seu trabalho na campanha de Gleisi custou 6 milhões de reais, dos quais 1,35 milhão de reais foi pago oficialmente e os 4,6 milhões de reais, por caixa dois. Santana e Mônica disseram em seus depoimentos que, embora não fosse tão ativa nas tratativas quanto Marta, Gleisi Hoffmann também sabia dos pagamentos não declarados.
Mônica Moura detalhou recebeu dinheiro “por fora” das mãos de assessores da campanha de Gleisi em locais variados, como o escritório de um advogado da petista, a produtora onde a equipe dos marqueteiros trabalhava, e em um hotel.
Fernando Haddad (São Paulo, 2012)
Os delatores também relatam pagamentos não declarados à Justiça Eleitoral na vitoriosa campanha do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O valor do caixa dois na campanha de Haddad destinado a Santana e Mônica é o maior entre os candidatos petistas a prefeituras delatados pelo casal: 20 milhões de reais, que teriam sido acertados pelo ex-ministro Antonio Palocci e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Dez milhões de reais foram pagos e declarados ao TSE, dizem os marqueteiros.
Dos 20 milhões de reais pagos em caixa dois, 15 milhões de reais ficaram a cargo da Odebrecht, que usou seu departamento de propinas para pagar 5 milhões de reais em dinheiro vivo em hotéis ou flats da capital paulista e depositou 10 milhões de reais, cerca de 5 milhões de dólares, na offshore Shellbill, controlada pelo casal.
Os 5 milhões de reais restantes de caixa dois combinados por Palocci e Vaccari foram pagos em 2013, dizem os delatores, pela OGX, petroleira do empresário Eike Batista, graças a uma articulação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro foi depositado a Santana e Mônica por meio de um contrato fictício de consultoria firmado entre a Shellbill e a Golden Rock, offshore controlada por Eike no Panamá.
Patrus Ananias (Belo Horizonte, 2012)
João Santana assumiu a campanha do então ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome à prefeitura de Belo Horizonte depois de um pedido de Dilma Rousseff. Na capital mineira, ao contrário de São Paulo e Curitiba, contudo, o dinheiro de caixa dois não foi intermediado por Antonio Palocci, mas pelo então ministro do Desenvolvimento e atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), procurado pelo casal de marqueteiros após orientação de Dilma.
Mônica Moura narra em sua delação premiada que combinou com Pimentel que os serviços de Santana na campanha de Ananias custariam 12 milhões de reais, dos quais 4 milhões de reais “por fora” e 8 milhões de reais “por dentro”.
Segundo a delatora, depois de alguns pagamentos em espécie em Belo Horizonte e muitas cobranças por atrasos nos repasses, Fernando Pimentel levou São Paulo 800.000 reais em dinheiro vivo, alocados dentro de uma maleta. Em seus depoimentos, Mônica declarou ter ponderado com Pimentel que não teria como levar o dinheiro de modo seguro da capital paulista à mineira, onde tinha pagamentos a fazer.
“Fernando Pimentel, então, se dispôs a transportar o dinheiro em espécie de São Paulo para Belo Horizonte. Ela soube que Fernando Pimentel levou os R$ 800.000 em um avião particular (jatinho), de São Paulo a Belo Horizonte e a referida foi entregue na produtora em BH”, diz a delação. Os 3,2 milhões de reais restantes do valor a ser recebido de caixa dois foram pagos pela Odebrecht na offshore Shellbill, de acordo com a mulher de João Santana.