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Secretário exonera chefe de divisão que investiga caso Marielle no Rio

Delegado Antônio Ricardo Nunes deixa o cargo após comandar investigações do assassinato da vereadora e do caso Flordelis

Por Marina Lang Atualizado em 16 set 2020, 18h03 - Publicado em 16 set 2020, 08h35

O novo secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro exonerou, na noite de terça-feira, 15, o diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHGPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes, que comandava as Delegacias de Homicídios da Capital, de Niterói e da Baixada Fluminense. Em seu lugar, assume o delegado Roberto Cardoso, lotado até então na 27ª Delegacia Policial, em Vicente de Carvalho, na zona norte da capital fluminense. A troca foi publicada no boletim interno da corporação, a que VEJA teve acesso.

O novo titular do DHGPP ainda não confirmou, porém, se o delegado Daniel Rosa permanecerá como titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Em caso de troca, um dos cotados para assumir seu lugar é Moysés Santana, atualmente lotado na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

Allan Turnowski, que assumiu a Secretaria da Polícia Civil ontem, foi anunciado na segunda-feira, 14, como o novo titular da pasta pelo governador interino, Cláudio Castro (PSC). Seu nome começou a figurar na disputa pelo cargo na noite de sexta e ganhou força durante o final de semana. A mudança na cúpula da Secretaria da Polícia Civil foi antecipada por VEJA na última sexta-feira, 11.

Outro nome previamente cotado para o cargo, Rodrigo Teixeira de Oliveira deve ser confirmado como titular da Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional (SSPIO), cargo da cúpula da força fluminense e braço-direito do novo secretário. Ele é ex-chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e atua como consultor da presidência da Petrobras. A mudança, que ainda não foi oficializada por meio do boletim interno, é tida como certa nos bastidores da Polícia Civil.

Embora tratada com naturalidade pelos quadros policiais, já que as nomeações a divisões e cargos importantes são feitas na base da confiança do secretário, a mudança na estrutura da DHGPP acontece em meio a investigações de grande repercussão na Delegacia de Homicídios da Capital: as apurações relacionadas a bicheiros, milicianos e contraventores, ao Escritório do Crime, grupo de criminosos que pratica assassinatos sob encomenda no Rio, e ao duplo homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018 no Estácio, região central do Rio.

O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, e são os réus apontados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio como executores dos assassinatos de Marielle e Anderson. Hoje, o crime completa 917 dias sem apontar os mandantes e o porquê da vereadora e de seu motorista terem sido mortos.

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Trata-se da terceira gestão que assume as investigações do caso Marielle e Anderson. A primeira fase das investigações foi comandada pelos delegados Giniton Lages e Rivaldo Barbosa, que foram substituídos em 2019. O núcleo investigativo comandado por Antônio Ricardo e Daniel Rosa prosseguiu apurando os mandantes das execuções. Cardoso assume, então, a próxima etapa do inquérito, que já armazena 65 volumes e mais de seis mil páginas de investigações.

O novo titular da DHGPP é tido como um delegado de confiança de Turnowski. O departamento, por sua vez, é visto como “profundamente estratégico” pela nova gestão.

A troca no Departamento de Homicídios, porém, contraria uma promessa feita por Castro, governador interino, ao deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), amigo pessoal e padrinho político de Marielle. VEJA apurou que Castro se comprometeu pessoalmente com o deputado, no começo deste mês, a não mudar o núcleo investigativo que apura a emboscada contra a vereadora e seu motorista. A promessa, no entanto, não durou duas semanas. Procurada, a assessoria do governador em exercício declarou que “a troca administrativa é de responsabilidade do secretário de Polícia Civil”.

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Com 37 anos de experiência na Polícia Civil, Roberto Cardoso, novo titular da DHGPP, já foi responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital entre 2007 e 2010. Em 2007, Cardoso resolveu o caso do lavrador Renné Senna, assassinado a tiros após ganhar um prêmio de R$ 52 milhões na Mega Sena. Ele apontou a viúva de Senna, Adriana Almeida, como a mandante do crime. No ano em que deixou a chefia da DHC, recebeu a Medalha Tiradentes, maior premiação concedida pela Alerj, pelas mãos do deputado Iranildo Campos (PR).

Em sua despedida por meio de uma mensagem que circulou no Whatsapp, o delegado Antônio Ricardo listou algumas das investigações e casos solucionados – como a morte do pastor Anderson do Carmo, em que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) foi apontada como mandante do homicídio no fim do mês passado pela DH de Niterói, as investigações acerca da morte de Marielle e Anderson e as relacionadas ao Escritório do Crime. Apontou um aumento de 21% na taxa de resolução de homicídios e um total de 100% na elucidação de feminicídios.

Foi sob sua gestão que a DHC, junto ao Ministério Público do Rio, desencadeou a Operação Tânatos, que levou à prisão de Leonardo Gouvea da Silva, o Mad, em 30 de junho, além de outros milicianos relacionados ao Escritório do Crime. Mad é citado por investigadores como substituto do ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Adriano Magalhães da Nóbrega, em uma complexa organização criminosa que trabalha a mando de contraventores, além de dominar as comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio. Nóbrega foi assassinado em fevereiro durante uma operação policial com objetivo de capturá-lo na Bahia.

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A última operação, batizada de Dèja Vu (algo já visto, em tradução livre), foi desencadeada no começo de setembro e está relacionada ao caso Marielle e Anderson. Mandados de busca e apreensão foram expedidos contra o ex-vereador Cristiano Girão Matias, apontado por um documento da PF como o mandante de um caso similar em que um casal foi morto na comunidade de Gardênia Azul. Quem teria desferido os tiros a mando de Girão seria o PM aposentado Ronnie Lessa, que já é réu pelas mortes de Marielle e Anderson.

Outras mudanças na estrutura da Polícia Civil

Novos titulares para cargos estratégicos também foram designados por Turnowski. Valéria Aragão assume a Subsecretaria de Gestão Administrativa (SSGA). Já Tarcísio Andreas Jansen entra na chefia de gabinete da Secretaria da Polícia Civil. Fernando Antônio Paes de Albuquerque, por sua vez, vai comandar a Subsecretaria de Inteligência (SSINTE).

Felipe Lobato Curi vai responder pelo Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE). Giniton Lages assume o Departamento Geral de Polícia da Baixada (DGPB) e Antenor Lopes Martins Júnior vai chefiar o Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC). Andréa Menezes será responsável pela Controladoria Geral de Polícia (CGPC).

Já Departamento Geral Investigação à Corrupção, ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (DGCOR) vai ficar a cargo do delegado Flávio Porto.

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