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Sem patrimônio, ex-motorista de Flávio Bolsonaro financiou 80% de imóvel

Fabrício Queiroz, que movimentou 1,2 milhão de reais, tem registrado em seu nome no Rio de Janeiro só um apartamento em Taquara, adquirido por 365.000 reais

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 9 jan 2019, 20h03 - Publicado em 13 dez 2018, 18h57

O ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, que movimentou 1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017, recorreu a um financiamento da Caixa Econômica Federal para acertar a compra do único imóvel que tem em seu nome no Rio de Janeiro. Fabrício José Carlos de Queiroz adquiriu da construtora Nova Engenho um apartamento de 60 metros quadrados no bairro de Taquara, em Jacarepaguá, por 356.000 reais, dos quais 80% foram financiados.

Queiroz teve movimentações financeiras atípicas apontadas em relatório que o Coaf produziu sobre todos os servidores da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Apesar das quantias vultosas que entraram em sua conta, e da renda mensal de 23.000 reais, o ex-assessor dispunha de só 71.000 reais para dar como entrada no imóvel.

A transação era negociada, pelo menos, desde julho deste ano, quando a guia do imposto sobre transmissão de bens foi paga por Queiroz. Ele concluiu a compra no dia 6 de novembro, dois dias antes de a Polícia Federal deflagrar a Operação Furna da Onça, que prendeu dez deputados estaduais acusados de receber um “mensalinho” do Executivo do Rio de Janeiro.

O prédio, que tem apartamentos de dois quartos, piscina, playground e quadra esportiva, ainda não foi entregue aos moradores e em muito difere do casebre onde Queiroz vive até o momento, em uma área menos nobre na mesma vizinhança.

Nove assessores da Alerj fizeram depósitos em dinheiro na conta de Queiroz durante o período identificado pelo Coaf. Ao longo de 2016, a maior parte dos repasses foi realizada logo após a Alerj efetuar o pagamento dos funcionários. Há a suspeita de que uma parcela dos salários dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro ia parar na conta de Queiroz.

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Coaf acionou o MP em janeiro

O relatório do Coaf que identificou movimentações suspeitas nas contas de Queiroz e de outros servidores que trabalharam para deputados de 14 partidos diferentes estava à disposição tanto do Ministério Público Estadual (MPE) quanto do Ministério Público Federal (MPF) desde o início de janeiro.

O documento foi produzido a partir de uma regra de compliance da agência do banco Itaú na Alerj, que acionou o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda após registrar movimentações atípicas de clientes.

O MPF uniu o relatório a delações premiadas para embasar os pedidos de prisão contra os deputados na Furna da Onça. Eventuais investigações contra Queiroz serão responsabilidade do MPE, já que não há relação entre o caso e a compra de apoio político na Alerj pelo Executivo estadual.

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Bolsonaro responsabiliza Queiroz

O ex-assessor trabalhou com Flávio por mais de dez anos e é amigo de longa data da família Bolsonaro. Fotos em redes sociais mostram Queiroz ao lado do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e de seus filhos em um churrasco. No perfil da mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, há uma imagem do que parece ser o aniversário da filha caçula de Bolsonaro, Laura, em 2014.

Jair Bolsonaro
Postagem no Facebook da mulher de Fabrício Queiroz mostra o presidente eleito Jair Bolsonaro no aniversário da filha caçula, Laura (Facebook/Reprodução)

Questionado na semana passada por assessores e deputados sobre o caso, Jair Bolsonaro deu uma justificativa a seu modo, oferecendo uma resposta simples a um problema para lá de complexo: “Nem todo santo nunca cometeu um pecado, e nem todo pecador não vai poder virar santo”, disse ele, segundo relatos.

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Em seguida, sem fornecer detalhes sobre eventuais malfeitos do filho, Bolsonaro se antecipou em depositar as suspeitas na conta do motorista: “Olha, o pessoal está aí querendo pegar o assessor do meu filho. Vão descer a lenha no meu filho e em mim também. É a mesma coisa que um assessor de vocês aprontar algo. E aí, vocês terão culpa também?”. Não foi contrariado pelos aliados.

Na quarta 12, Bolsonaro disse que o “problema” do ex-assessor “dói no coração”, mas que cabe a ele se explicar à Justiça. “Se algo estiver errado, que seja comigo, com meu filho ou com Queiroz, que paguemos a conta deste erro, que não podemos comungar com erro de ninguém.”

Nesta quinta, 13, Flávio também foi a uma rede social para dizer que não fez nada de errado. “Sou o maior interessado em que tudo se esclareça para ontem, mas não posso me pronunciar sobre algo que não sei o que é, envolvendo meu ex-assessor.”

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