Preocupado com os desdobramentos da nova crise entre o Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), depois da nota distribuída pelo seu advogado Eduardo Pizarro Carnelós classificando de “vazamento criminoso” o vídeo com a delação de Lúcio Funaro, o presidente Michel Temer (PMDB) resolveu escrever uma carta de quatro páginas dirigida aos parlamentares, não só para se defender das acusações feitas pelo operador do PMDB, mas para dar “explicações”, “satisfações” e “desabafar” diante da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra ele.
“É um desabafo. É uma explicação para aqueles que me conhecem e sabem de mim. É uma satisfação àqueles que democraticamente convivem comigo”, disse Temer, que não se refere à atrapalhada nota de seu advogado ou aos posteriores “esclarecimentos” dele, que havia chamado a revelação da delação pela imprensa de vazamento criminoso porque não sabia que os vídeos estavam publicados no site da Câmara.
O episódio gerou um novo desgaste na relação entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e Temer, às vésperas da votação da segunda denúncia contra ele no Congresso. Maia é o responsável por ditar o ritmo da votação e, nos bastidores, já promete retaliação ao presidente.
Na carta, Temer prega ainda “a pacificação” e cita sua disposição de conversar e dialogar, alegando que não acredita na tese do “nós contra eles”, mas “na união dos brasileiros”, com “serenidade, moderação, equilíbrio e solidariedade”, certo de que, com esta carta, “a verdade dos fatos será reposta”.
Temer começa a carta enviada a deputados e senadores falando da sua “indignação” e diz que, por isso, decidiu se dirigir aos parlamentares, apesar de muitos o aconselharem a não se pronunciar. “Para mim é inadmissível. Não posso silenciar. Não devo silenciar. Tenho sido vítima desde maio de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz. Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis”, diz o presidente, que passa, então, a listar os ataques sofridos desde a delação da JBS, que implicou sua gestão.
Ele faz contundentes críticas à atitude do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a quem acusa de ter acertado com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, as acusações contra ele, que reiterou serem mentirosas e fazerem parte de “uma urdidura conspiratória”. “Tudo combinado, tudo ajustado, tudo acertado, com o objetivo de: livrar-se de qualquer penalidade e derrubar o presidente da República”, desabafou.
Segundo Temer, a delação divulgada agora é de um “delinquente conhecido de várias delações premiadas não cumpridas para mentir, investindo contra o presidente, contra o Congresso Nacional, contra os parlamentares e partidos políticos”. Depois de reiterar que é “vítima de uma campanha implacável com ataques torpes e mentirosos, que visam a enlamear meu nome e prejudicar a República”, Temer disse estar “indignado” em “ser vítima de gente tão inescrupulosa” e avisou que todos estes episódios “estão sendo esclarecidos”.
Após agradecer o “apoio decisivo” dos deputados e senadores que “possibilitou a retomada do crescimento no país”, o presidente apresenta dados da economia de hoje comparados ao período em que chegou à Presidência da República. Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, havia divulgado dados semelhantes em suas redes sociais.
Por fim, o presidente fala da agenda de “modernização reformista do país” que, na sua avaliação, avança com medidas aprovadas pelo Congresso como o teto de gastos públicos, lei das estatais, modernização trabalhista, reforma do ensino médio, proposta de revisão da Previdência e simplificação tributária. Segundo o presidente, sua trajetória política foi firmada na pacificação e diálogo com a sociedade, resultando na união dos brasileiros.
(Com Estadão Conteúdo)