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Tucano de berço, Bruno Covas defende gestão e mira voo mais alto

Neto de Mário Covas diz que cidade linda é a que ‘preza pela lei’ e que ser familiar de político ajuda, mas ‘para levar povo ao show tem que saber cantar’

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 19h50 - Publicado em 13 fev 2017, 16h54

O sobrenome é um dos mais tradicionais da política de São Paulo: Covas. Dando expediente em um gabinete no sexto andar do Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo, há pouco mais de um mês, o vice-prefeito Bruno Covas (PSDB), 36 anos, vive a realização de um sonho do menino aficionado por política que foi morar com o avô, o falecido ex-governador Mario Covas, com quem ele, a mãe e a avó só conseguiriam conversar se o assunto fosse política.

Acumulando a função com a Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais, é Bruno quem comanda o polêmico projeto Cidade Linda, uma das principais bandeiras da administração tucana até o momento. Ele diz que uma cidade linda é a que “preza pela lei”, critica os pichadores, defende o projeto, diz que olha para a periferia e nega que o programa seja apenas uma “embalagem bonita” para a cidade.

Filiado ao PSDB desde os 17 anos, afirma que a família foi essencial para que abraçasse a carreira, afinal “hoje ser político é o que há de pior na terra”, que ser neto de Mário Covas “ajuda a lançar o primeiro CD, mas para levar o povo ao show precisa saber cantar” e evita falar sobre pretensões futuras. O prefeito João Doria (PSDB) reitera com frequência que não será candidato à reeleição em 2020. As maiores lideranças da legenda são políticos mais experientes, que não terão fôlego para mais muitas eleições. Sobre a possibilidade de alçar voos mais altos, Covas afirma que “quem começa como estagiário numa empresa quer chegar, um dia, à direção-geral”.

O Cidade Linda é o principal projeto, pelo menos até agora, no que diz respeito à zeladoria em São Paulo. Para deixar claro, o que é uma “cidade linda”?

Cidade linda é uma cidade que preza pela lei, que as pessoas tenham mais orgulho de viver, uma cidade mais arrumada, que não tenha lixo na rua, que não tenha buraco que vá danificar o pneu dos carros. Essa é uma ação de zeladoria, são mega-ações em grandes corredores, grandes avenidas da cidade. A cada final de semana nós vamos ter o início dessa ação em uma grande avenida, já tivemos 9 de Julho, Avenida Paulista, 23 de Maio, Tiradentes. O programa se inicia no sábado e vai até a outra sexta-feira. Às vezes precisa de mais tempo, mas é uma grande ação de zeladoria nos grandes eixos da cidade. Isso vai contaminando. Os próprios prefeitos regionais têm feito pequenas ações de zeladoria e chamado de Cidade Linda. É deixar a cidade mais arrumada, menos pichada, com menos mato, é o conjunto das ações de zeladoria.

O senhor fala de “menos pichação”. Para a prefeitura, a pichação é um delito? Como diferenciar o que é vandalismo e o que é arte?

Isso está na legislação de crimes ambientais, basta ler a legislação. E, agora, no início de fevereiro, a Câmara vai discutir uma nova regulamentação, com novas sanções administrativas, mais duras, para os pichadores da cidade. Crime já é. Primeiro, teve autorização? Se não, você já tem mais dificuldade [de considerar arte], porque foi feito na casa dos outros ou na via pública sem autorização. Essa distinção entre pichação, grafite, muralismo é uma ação da Secretaria de Cultura, que tem técnicos capacitados para orientar nossa ação, com conhecimento técnico para apontar a diretriz dessa diferenciação.

Não preocupa o senhor que o Cidade Linda se concentre na questão da aparência, mas não resolva os reais problemas estruturais da cidade?

Não, porque ele é apenas uma vertente da ação da prefeitura. O Cidade Linda não quer dizer que não iremos construir creche, fazer Corujão da Saúde, para que as pessoas possam fazer seus exames, deixar de ter uma atuação voltada a morador em situação de rua. Não é a única ação da prefeitura, é apenas uma ação cujo resultado as pessoas veem em curto prazo. É diferente dos índices de educação. Você não vai melhorar esses índices em um mês. Nossa meta é, ao final de quatro anos, chegar ao melhor desempenho entre as capitais de todo o país. Essa foi a meta que o prefeito colocou para o secretário (de Educação, Alexandre Schneider). Não é que nós estejamos cuidando de uma única ação. “Prefeitar” significa cuidar das pessoas e também cuidar da cidade, nisso entra a ação de zeladoria.

A derrota do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) é atribuída, em parte, ao fato de ele não ter estado presente na periferia. O Cidade Linda, até agora, mirou bastante a região central. Existe esse receio?

Estivemos em São Mateus (Zona Leste), vamos fazer mutirão de calçadas na periferia toda semana. O fato de um programa começar pelo eixo central não quer dizer que ele não está presente na periferia, até porque nós já fomos para Sapopemba (Zona Leste), Perus (Zona Norte), Campo Limpo (Zona Sul), além das visitas-surpresas que temos feito. O Haddad não perdeu por ter deixado de estar presente na periferia, mas por ter deixado de estar presente na cidade, você não via ele em nada na cidade, em agendas de final de semana, nos grandes eventos da cidade. E na periferia é onde as pessoas sentem mais.

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Cerimônia de posse de João Doria
Bruno Covas, com o prefeito, João Doria, durante posse na Câmara Municipal, em 1º de janeiro (Nelson Antoine/FramePhoto/Folhapress)

O senhor e Doria fizeram um vídeo sobre a reforma dos banheiros do parque do Ibirapuera e ressaltaram bastante que a prefeitura faria essa ação a custo zero, porque isso seria bancado por uma construtora, com equipamentos fornecidos por outra empresa. Existe algum receio de que essas empresas venham pedir algum favor para a prefeitura no futuro? 

Nenhum receio, até porque não vão ser atendidas. O prefeito tem deixado muito claro que não haverá nenhum tipo de contrapartida para quem colaborar. O problema no país é quando colocamos recursos públicos a serviço do privado. E não o contrário. O recurso privado a serviço público é algo que está dando certo, que está sendo estimulado e que será uma das grandes marcas desta gestão. Um dos grandes diferenciais, que será reproduzido no país todo e em outras esferas de governo.

As empresas entenderam isso?

Sim, pelo menos todas que vieram falar com a gente, nenhuma veio falar em contrapartida. Aliás, para elas é excepcional poderem falar que estão colaborando, entra na responsabilidade social que elas têm que cumprir.

Por que acumular os cargos de vice-prefeito e de secretário de Prefeituras Regionais?

Quando eu o apoiei (Doria), no segundo turno do processo de prévias do PSDB, em nenhum momento vinculei isso a ser escolhido vice-prefeito. Quando eu aceitei o convite, nunca vinculei isso a ser secretário, mesmo assim, ele me chamou e aceitei. Acho um espaço importante porque a questão da zeladoria da cidade, que é grande parte do trabalho dos prefeitos regionais, é um trabalho muito identificado com a ação do município. Em outras questões, como educação e saúde, que tem participação do município, do estado e da União, é muito difícil você ter uma responsabilização. A questão da zeladoria é identificada com a ação do prefeito. As pessoas sabem que tapar buraco, cortar árvore, pintar meio-fio, arrumar calçada é uma ação do município.

Mas a secretaria não tinha esse nome. Se chamava “Secretaria de Coordenação das Subprefeituras”. Qual é a diferença, na prática, entre a subprefeitura e a prefeitura regional? Existe alguma?

O prefeito, para usar a palavra da moda, “empoderou” os subprefeitos ao torná-los prefeitos regionais, para que eles sejam não apenas os responsáveis pela zeladoria da cidade, que já era a atribuição que eles tinham, mas para que sejam a presença do prefeito nas regiões, para que também busquem, com os regionais da educação, da saúde, da CET, da assistência social, resolver os problemas que não dizem respeito à pasta das Prefeituras Regionais, mas que eles precisam ajudar a dar uma solução. Hoje, nós temos prefeito regional colaborando com secretário de Educação para buscar terreno para creche, apesar de não ser responsabilidade da prefeitura regional. Temos outro ajudando a trazer empresas para sua região, apesar de ser trabalho da Secretaria de Emprego e Empreendedorismo. Eles estão participando de outras ações que não dizem respeito só à zeladoria. Estão tomando uma dimensão política maior que a do subprefeito.

O senhor tem um sobrenome que não é um sobrenome qualquer em São Paulo, sobretudo na política. O senhor se filiou ao PSDB com 17 anos. Como surgiu a política?

Surgiu dentro de casa. Eu digo que não foi a cegonha que me trouxe, foi um tucano. Desde criança, eu me lembro fazendo campanha na escola, nos comícios, passando férias em Brasília. Meu avô fazia política 24 horas por dia, sete dias por semana. Então, a minha avó, para ter um marido, a minha mãe, para ter um pai, e eu, para ter um avô, precisávamos entender, compreender e participar. Sempre estive envolvido, quis saber, me interessei. Me formei em direito e em economia porque eu achei que fossem faculdades importantes para quem fosse seguir a vida pública. Fui seguindo a trajetória, me filiei assim que eu tirei o título de eleitor, fui participar da juventude do PSDB, disputei espaços na juventude do PSDB. Sempre gostei e acabou dando certo.

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O vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas
O vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, em seu gabinete, com o mapa da cidade de São Paulo ao fundo (Antonio Milena/VEJA.com)

A partir de 2006, o senhor venceu todas as eleições que disputou. O sobrenome pesou naquela eleição?

Pesou para eu querer entrar na política. Quem quer fazer política hoje em dia? Você imagina o adolescente, de 17 ou 18 anos, chega em casa e diz “pai, mãe, quero ser político”. Os pais vão pensar imediatamente “meu Deus, onde foi que eu errei?”. Hoje ser político é o que há de pior na face da terra. Então pesou muito sim.

Acha que, antes de as pessoas conhecê-lo, elas votaram no senhor por causa do seu avô?

Eu acho que sempre vai ter esse componente. Não tem como dissociar. Temos um senador da República (Aécio Neves) que é presidente do meu partido, foi candidato a presidente, teve 50 milhões de votos e é o “neto do Tancredo” até hoje. As pessoas nunca vão dissociar uma coisa da outra e nem tem por que eu buscar fugir disso. Eu digo que parente de político é igual a parente de cantor. Ajuda a lançar o primeiro CD, mas para levar o povo ao show precisa saber cantar.

Na sua juventude, no dia em que o senhor fez dezoito anos, seu avô era governador. Isso te privou de alguma coisa?

Muito. Eu sempre pensava que as pessoas não estavam julgando a mim, ali era o “neto do Mário Covas”, então eu sempre ficava com um pé atrás, em festas ou qualquer coisa. Eu não poderia aprontar porque o prejudicaria.

Desde a campanha, Doria diz que não será candidato à reeleição. O senhor é vice-prefeito e ocupa um cargo de destaque, “empoderado”, como disse. O senhor acha que seria o candidato natural à sucessão?

Não tenho dúvida que, ao final dos quatro anos, o grande eleitor para a escolha do candidato à sucessão vai ser o próprio João Doria. Em algum momento, ele vai tomar essa decisão, se vai apoiar algum nome ou não. Se sim, se vai ser um nome do governo, de fora ou vai ser uma primeira campanha, como foi o caso dele. Vai ser uma decisão dele.

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Para as eleições presidenciais, nós vemos, por ora, nomes de outros carnavais, como Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede)… Na avaliação do senhor, quais nomes do PSDB têm possibilidade para candidaturas futuras? Não só em 2018, mas para o futuro. O senhor considera que está nesse grupo?

Candidatura a presidente, como toda candidatura executiva, você vai plantando para um dia colher. Quem começa como estagiário numa empresa quer chegar, um dia, à direção-geral. É natural que queira enfrentar cada vez desafios maiores, mas eu conheço o meu tamanho e sei que certamente não seria para 2018. Se chegar um bom momento, quem dera, mas hoje sou candidato a fazer um bom trabalho como vice-prefeito. Hoje o partido tem, além dos nomes mais citados, excelentes governadores como Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR), ministros como Bruno Araújo (Cidades), líderes na Câmara e no Senado como Carlos Sampaio (SP), Antonio Imbassahy (BA), o Cássio Cunha Lima (PB). Nomes excelentes que poderiam representar o PSDB numa disputa nacional.

 

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