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Vi e não gostei

Pesquisa feita a pedido de VEJA mostra que a maioria dos eleitores está insatisfeita com o resultado do primeiro turno. Vida dura para o próximo presidente

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Sergio Ruiz Luz Atualizado em 4 jun 2024, 16h48 - Publicado em 12 out 2018, 07h00
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  • A primeira pesquisa eleitoral feita depois do primeiro turno, encomendada por VEJA à consultoria Ideia Big Data, revelou que a maioria do eleitorado ficou insatisfeita com o resultado das urnas. O levantamento, realizado presencialmente com 2 036 eleitores, entre 8 e 10 de outubro, mostra que 44% estão “insatisfeitos” ou “muito insatisfeitos” com o resultado, contra 35% que se declaram “satisfeitos” ou “muito satisfeitos”. “Os descontentes são os eleitores nem-­nem: não queriam nem Bolsonaro nem Haddad”, afirma Mauricio Moura, sócio da Ideia Big Data e idealizador da pesquisa.

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    (Arte/VEJA)

    O descontentamento se reflete também na pouca disposição dos eleitores que não votaram nem em Bolsonaro nem em Haddad para seguir agora uma eventual orientação de voto dada por seu candidato de primeiro turno. Somente 25% dos entrevistados responderam ter a intenção de fazê-lo. A pesquisa também confirmou a liderança de Bolsonaro na disputa contra Haddad no segundo turno por 54% a 46% dos votos válidos — distância mais estreita que a mostrada na pesquisa do instituto Datafolha, realizada um dia depois, que aponta 58% a 42%.

    O alto nível de insatisfação do eleitorado significa que o próximo presidente, seja quem for, poderá assumir o país com um dos índices de popularidade mais baixos da história, diz Cristiano Noronha, sócio da consultoria política Arko Advice. Quando a vitória de Donald Trump surpreendeu os Estados Unidos, em novembro de 2016, uma pesquisa feita pelo instituto YouGov logo após o pleito mostrou que o sentimento da maioria também era negativo: 52% dos entrevistados estavam insatisfeitos com o resultado. No caso dos eleitores do Partido Democrata, derrotado na eleição, o índice de insatisfação chegava a 86%. Entre os eleitores que não eram entusiastas nem de republicanos nem de democratas, 46% estavam descontentes com o desfecho. Trump assumiu com menos de 50% de popularidade, a menor taxa de um presidente americano em início de mandato. Até então, Geor­ge W. Bush era o recordista, com a impopularidade na casa dos 50%.

    Se um fenômeno parecido ocorrer no Brasil, os 100 dias de lua de mel que costumam desfrutar os governantes recém-chegados ao Palácio do Planalto correm o risco de ser um tanto amargos. O candidato que subir a rampa em 1º de janeiro, portanto, terá como uma das mais urgentes missões distensionar o ambiente político no país. “É recomendável que o presidente eleito, tão logo saia o resultado das urnas, demonstre que vai governar para todos e estenda a mão ao grupo que votou em seus opositores, inclusive aos seus antagonistas”, afirma Noronha. Dessas sinalizações iniciais, acredita o cientista político, dependerá em boa parte a definição sobre o clima político que dominará o país a partir de 2019.

    OTIMISMO - O ex-deputado Eduardo Cunha: a corrupção cairá, creem eleitores
    OTIMISMO – O ex-deputado Eduardo Cunha: a corrupção cairá, creem eleitores (Jason Silva/AGIF)
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    Além dos elevados índices de rejeição, a polarização eleitoral é outro fator que explica o alto contingente de insatisfeitos. Moura, da Ideia Big Data, afirma que a divisão da sociedade pode ser percebida na total falta de possibilidade de um lado da disputa roubar votos do outro. Segundo o Datafolha, mais de 80% dos eleitores de Haddad e Bolsonaro estão seguros de seu voto. “Esta eleição teve o tema ‘plebiscitário’ antecipado no primeiro turno — foi sobre a volta ou não do PT ao poder. Não há como o eleitor do Bolsonaro virar Haddad, ou vice-versa. O eleitor está descontente porque terá de tomar uma decisão que não o satisfaz.”

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    (Arte/VEJA)

    Outro dado identificado na pesquisa foi a inédita disseminação do uso do WhatsApp como ferramenta de difusão de informações sobre política — papel que antes era monopólio dos meios tradicionais de comunicação, como TV, jornais, revistas e sites na internet. Quase 80% dos eleitores afirmaram ter recebido mensagens sobre política através do aplicativo, e 53% contaram ter recebido esse tipo de mensagem diariamente. E os que mais recorreram à ferramenta nem foram os jovens. Entre os eleitores com idade acima de 60 anos, 73% se informaram sobre a eleição diariamente pelo WhatsApp. No recorte de renda, a classe A foi a que mais obteve informação diária pelo aplicativo: 75%.

    Segundo a Ideia Big Data, 51% dos eleitores reconheceram ter recebido notícias falsas por meio do WhatsApp e 13% admitiram tê-las repassado a outras pessoas. Enquanto as fake news chegaram de maneira quase uniforme aos celulares de eleitores de todas as faixas etárias e de renda, aqueles que admitiram tê-las compartilhado estão majoritariamente nas faixas etárias acima de 45 anos (59%) e pertencem às classes B (30%) e D-E (39%). Já os que menos compartilham mentiras são os jovens de 25 a 34 anos (9,7% dos entrevistados) da classe A. Apesar da recente prevalência do celular como meio de informação, 50% das pessoas disseram que assistirão a todos os debates do segundo turno exibidos pela TV, enquanto 30% pretendem ver apenas um debate.

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    Além de enfrentar o alto grau de insatisfação com o resultado do primeiro turno, o novo governante terá de lidar com o elevado nível de expectativa de seus eleitores. A Ideia Big Data questionou os eleitores de Bolsonaro e Had­dad sobre as melhorias que esperam que cada um obtenha nas áreas de educação, saúde, segurança pública, combate à corrupção e emprego. Mais de 70%, em média, de ambas as fatias do eleitorado esperam que seus escolhidos tenham bom desempenho nessas áreas. Se Bolsonaro vencer, 85% de seus eleitores acreditam que ele terá sucesso em reduzir a corrupção e 93% estão certos de que o presidenciável tornará o Brasil um país mais seguro. Já no caso de Haddad, 76% aguardam por melhorias na educação e no emprego.

    É comum e esperado que o processo eleitoral provoque algum nível de stress. As eleições deste ano, no entanto, atingiram um grau inédito na escala de tensão, causada pelo acúmulo de sucessivas crises políticas mal curadas. Desde as Jornadas de Junho, em 2013, quando multidões foram às ruas para protestar contra o preço do transporte, o brasileiro não tem folga. Em 2014, a Lava-Jato começou a mostrar as vísceras dos mundos político e empresarial. No mesmo ano, o eleitor atravessou a renhida campanha presidencial vencida por Dilma Rousseff, que, depois do recrudescimento da crise econômica, sofreu um impeachment, em 2016, e deixou o Palácio do Planalto. Em seguida, apareceram as revelações bombásticas, feitas pelos donos da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer. As eleições de 2018 não foram propriamente um sopro de ar fresco nesse clima de sufoco generalizado — o que só reforça a constatação de que há bem mais do que duas razões para a insatisfação do brasileiro.


    O jogo sujo das fake news

    Durante o primeiro turno, 51% dos eleitores receberam notícias falsas sobre candidatos e 13% admitiram ter repassado as mensagens a outras pessoas

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    Flávio Bolsonaro
    MANIPULAÇÃO – Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável e recém-eleito senador: falsa ofensa a nordestinos (//Reprodução)
    Manuela D’Ávila
    SACRILÉGIO – Manuela D’Ávila, vice de Haddad: imagem de camiseta adulterada com a frase “Jesus é travesti” (//Reprodução)
    Patricia Pillar
    MENTIRA – Patricia Pillar publicou vídeo na internet para desmentir boato de que fora agredida por Ciro Gomes (//Reprodução)

     

    Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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