Witzel busca partido para disputar governo em 2026 e diz não guardar mágoa de Bolsonaro
Ex-governador do Rio admite falhas de articulação e afirma ter sido vítima da "maior perseguição política do país"
Eleito governador do Rio em 2018 com o apoio do bolsonarismo, Wilson Witzel tornou-se, em pouco tempo, inimigo declarado da família do então presidente Jair Bolsonaro. A aliança, que começou com discursos conservadores afinados, ruiu em meio a acusações mútuas e ataques públicos. Quatro anos após o impeachment, o ex-governador percorre gabinetes em Brasília em busca de um partido para disputar novamente o governo do estado. Em conversa com VEJA, afirma ter sido vítima da “maior perseguição política do país” e reforça que só volta à cena para concorrer ao Palácio Guanabara.
O senhor teve uma das trajetórias mais meteóricas da política do Rio. É possível repetir a ascensão depois de uma queda igualmente abrupta?
Os fatores que levaram à minha eleição em 2018 continuam presentes. A população segue acuada pela criminalidade, enquanto a política fluminense virou uma narcopolítica, com facções e milícias misturadas ao poder público. Em 2018, as pessoas buscaram uma ruptura com esse sistema. Hoje, o Rio está ainda mais fundo nesse poço, e acredito que há espaço para uma nova virada, porque o povo continua clamando por mudança.
Acredita ter sido vítima da máquina estatal?
Fui vítima do maior esquema de perseguição política e destruição de reputação já visto no país. Um processo tão bem articulado que uniu da esquerda à direita na Assembleia Legislativa. Criou-se um verdadeiro sindicato do crime, formado por políticos que se beneficiavam do caos. Esse consórcio, que atuou para me derrubar e preservar privilégios, está hoje à frente do governo.
Houve erros de gestão que facilitaram esse processo?
O que houve foi uma grande traição. Pessoas que eu acreditava serem parceiras mostraram-se comprometidas com a velha política e se aliaram ao grupo derrotado em 2018 para voltar como era antes. Minha disposição de enfrentar interesses poderosos foi o que me colocou no alto.
O rompimento com Jair Bolsonaro foi apontado como ponto de inflexão. Se pudesse voltar atrás, teria conduzido essa relação de outra forma?
Nunca tive nada contra o presidente. Bolsonaro se cercou de pessoas ruins que o induziram ao erro, e muito do que enfrenta hoje é consequência disso. No Rio havia quem tinha interesse em envenenar nossa relação e usou a pandemia para viabilizar esses interesses escusos. Não carrego ressentimentos pessoais.
O senhor busca um partido para viabilizar sua candidatura em 2026. Com quais legendas mantém conversas hoje?
Prefiro, por enquanto, não citar nomes. O último partido com que eu conversava, o PSDB, acabou sendo comprado com secretarias e cargos pelo meu adversário. O grupo que lidera as pesquisas age de forma vil para bloquear candidaturas que possam ameaçar sua permanência no poder. Mas tenho, sim, dialogado com siglas relevantes.
O senhor pretende disputar diretamente o governo do Rio ou considera outro cargo para reconstruir sua base?
Não penso em disputar qualquer outro cargo que não seja o de governador. Quero retomar o projeto iniciado em 2019, que foi exitoso e devolveu dignidade ao povo. A população terá a oportunidade de se manifestar na urna sobre a covardia que foi feita comigo.
Seu vice, Cláudio Castro (PL), assumiu o governo após o seu impeachment e permanece no cargo até hoje. Qual relação mantém com ele?
Depois da minha saída do governo não mantive mais qualquer relação política com os atuais integrantes. Nas oportunidades em que encontrei Cláudio Castro socialmente, cumprimentei-o e desejei boa sorte, dizendo que não guardo mágoa ou ressentimento. Estou à disposição para ajudar e superar diferenças.
Quem é Wilson Witzel hoje?
Continuo morando no Grajaú e trabalhando com advocacia. Um pai de família, cristão, que busca viver os princípios que Jesus nos ensinou. Não perdi a fé nem a esperança, mas hoje estou mais experiente e consciente da força do sistema.