Em delação premiada à Procuradoria-Geral da República, o doleiro Lúcio Funaro afirmou que o advogado e o ex-assessor de Michel Temer, José Yunes, sabia que havia 1 milhão de reais em uma caixa que o doleiro mandou entregar no escritório do advogado, em setembro de 2014, às vésperas da eleição.
Yunes, que é amigo de Temer, havia dito em depoimento que era apenas uma “mula”. O episódio levou Yunes a deixar o governo em dezembro do ano passado. Em contato com VEJA, ele chamou Funaro de “criminoso irresponsável” e disse que vai processá-lo. Yunes disse que já tentou ter acesso à integra da delação do doleiro para melhor se defender, mas o ministro Edson Fachin negou.
O jornal Folha de São Paulo teve acesso ao vídeo em que Funaro faz essa revelação. Segundo Funaro, Yunes não só sabia que havia dinheiro na caixa como ele tinha certeza que os recursos vinham do departamento de operações estruturadas da Odebrecht, o famoso departamento da propina. Esse dinheiro, segundo apontam as investigações, foi usado na campanha à prefeitura de São Paulo de Gabriel Chalita.
Hoje, sábado, Michel Temer reagiu à denúncia de Funaro. Em nota divulgada pela manhã, o advogado do presidente, Eduardo Pizarro Carnelós, disse que o vazamento do vídeo em que Funaro faz a revelação é “criminoso”. Segundo o defensor, a divulgação do vídeo é “um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito”. De acordo com Carnelós, o vazamento teve o “claro propósito de causar estardalhaço” e constranger os parlamentares da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, que votarão na próxima quarta-feira o “bem fundamentado” parecer do deputado Bonifácio Andrada (PMDB-MG) sobre o pedido de autorização à Procuradoria Geral da República para dar sequência à denúncia contra Temer.
Em depoimento à Polícia Federal no ano passado, Funaro já havia denunciado Temer. O doleiro afirmou aos policiais que o presidente tinha pleno conhecimento de como funcionavam os esquemas de corrupção que abasteciam o cofre do PMDB. Em outras palavras, Temer sabia que o partido financiava suas campanhas com dinheiro oriundo de propinas. À época, essa não foi a única revelação do doleiro. Funaro contou também que já se encontrou pessoalmente com Michel Temer, que chegou a tratar com ele de questões referentes ao financiamento do partido. O presidente garante que nem sequer conhece Funaro. Os advogados do doleiro agora correm contra.