Assim que seu nome foi anunciado pelo conclave que o elegeu papa, em 2005, o alemão Joseph Ratzinger teve seu passado esmiuçado — uma dor de cabeça que o seguiu ao longo dos seus curtos oito anos de papado. A primeira mancha a ser explicada na trajetória de Bento XVI foi seu envolvimento com o nazismo.
Ratzinger prestou serviço obrigatório no Exército Alemão entre 1943 e 1945. Na época, ele havia acabado de entrar no seminário preparatório, mas não conseguiu evitar ser convocado pelo nazismo. Desde 1941, quando fazer parte da Juventude de Hitler se tornou obrigatório, o jovem já frequentava o grupo. Ele só foi convocado oficialmente aos 16 anos, para realizar trabalhos auxiliares ao lado dos soldados. Em 1944, ele e seus companheiros de seminário foram transferidos para as unidades regulares do Exército.
Em entrevistas, Ratzinger contou que viu judeus húngaros sendo levados para campos de concentração quando sua base era próxima da Hungria. O papa chegou a ser dispensado, mas acabou convocado novamente e desertou em abril de 1945. Ele foi capturado por soldados americanos e mantido prisioneiro de guerra por alguns meses. Bento voltou ao seminário na Universidade de Munique em 1945, ano que marcou o fim da II Guerra.
Porém, a controvérsia que drenou as forças do então pontífice — apontada como uma das razões para sua renúncia — foram os casos de abuso sexual e pedofilia revelados após uma investigação na arquidiocese de Munique, entre 1945 e 2019. Bento, então cardeal Joseph Ratzinger, comandou a arquidiocese de 1977 a 1982.
Este ano, ele pediu perdão por “falhas graves” na forma que lidou com casos de abusos sexuais dentro da Igreja, mas disse não ter cometido qualquer irregularidade, após uma investigação independente criticá-lo por inação em quatro casos enquanto era arcebispo de Munique. “Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Maior ainda é minha dor pelos abusos e erros que ocorreram nestes lugares diferentes durante o período de meu mandato”, disse. O papa emérito também foi acusado de ter acobertado casos de abusos contra menores na década de 1980, ele, porém, negou ter conhecimento dos crimes à época.
A cereja do bolo que o levou a renunciar o Trono de Pedro, em 11 de fevereiro de 2013, foi um escândalo de corrupção envolvendo o Instituto de Obras Religiosas (IOR), o banco do Vaticano. A Justiça italiana abriu uma investigação sobre o IOR e bloqueou 23 milhões de euros de suas contas, por suspeita de violação das normas do sistema financeiro contra lavagem de dinheiro. Enfraquecido por tantas polêmicas e com a saúde debilitada, Bento, então, se tornou o primeiro papa em mais de 600 anos da Igreja Católica a abdicar de seu cargo.