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Santo Sudário é exposto ao vivo na TV e redes sociais do Vaticano

Por conta da pandemia do novo coronavírus, o tecido que teria envolvido o corpo de Cristo após a crucificação foi exibido pela primeira vez online

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 11 abr 2020, 13h46 - Publicado em 11 abr 2020, 12h07

Objeto de veneração e alvo de polêmicas desde que sua existência veio à tona, ainda na Idade Média, o Santo Sudário – o tecido que teria envolvido o corpo de Cristo depois da crucificação – foi exibido ao vivo nas redes sociais e no portal de notícias do Vaticano neste sábado (11), em que os cristãos comemoram o Sábado de Aleluia. Por conta da pandemia do novo coronavírus, esta é a primeira vez que a relíquia pôde ser vista em tempo real, de dentro da teca onda está armazenada. Através de uma carta, o Papa Francisco, participou da uma oração conduzida pelo arcebispo de Turim, dom Cesare Nosiglia, pelo fim da crise. O Pontífice ressaltou que a face estampada no pano de linho remete aos “rostos de tantos irmãos e irmãs doentes, especialmente os que estão sozinhos e recebem poucos cuidados”. 

Guardada a sete chaves na Catedral de Turim desde o século XVII e raramente exposto ao público, o Santo Sudário é uma das relíquias mais importantes e controversas da história da Igreja Católica. O primeiro registro histórico é de 1354, quando a peça estrelou a inauguração de uma pequena uma igreja na cidade francesa de Lirey, no nordeste da França, fundada pelo cavaleiro Geoffroy de Charny; e atraiu uma multidão de fieis. Em tempos onde a descoberta de relíquias era altamente lucrativa e a maioria dos devotos era, além de analfabeta, bastante supersticiosa, o tecido de linho de 4,5 metros contou, ao mesmo tempo, com a aprovação e a desconfiança da Igreja, desprovida de métodos confiáveis para atestar sua veracidade.

A polêmica ganharia novos contornos em 1898, quando o Sudário, já abrigado em Turim, foi fotografado por Secondo Pia, um retratista amador autorizado pelo rei Umberto I. Foi a partir desde registro que se descobriu a imagem do “corpo de Cristo”: contornos mais nítidos de um homem com sinais claros de crucificação confirmados em 1973, quando o Vaticano liberou a peça para análises científicas. Em 1988, entretanto, a veracidade da relíquia seria severamente questionada após o resultado de um teste com carbono 14, que revelou que a peça teria sido produzida, na verdade, entre 1260 e 1390. O golpe na credibilidade do Sudário só não foi fatal graças ao incêndio ao qual o tecido sobreviveu, ainda na França, em 1531, e que pode ter “contaminado” a idade da peça, segundo pesquisas posteriores.

Como faz com a maioria dos objetos remanescentes da época de Jesus, o Vaticano trata o Sudário como uma relíquia histórica, sem nunca ter atestado por completo sua autenticidade. A favor dos que creem, pesam algumas importantes convergências entre a história contada na Bíblia e o homem retratado no tecido e na fotografia: além de marcas de pregos nos pulsos e nos pés, vê-se ferimentos no peito, nos ombros e nas costas, que remontam à flagelação e à caminhada com a cruz. Foram detectados vestígios de sangue AB, considerado comum entre judeus do Oriente Médio, e de flores que, segundo pesquisas do botânico Avinoam Danin, de 1999, só existiam Jerusalém.

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A ausência de registros anteriores à Idade Média e a dificuldade de se realizar novos testes, entretanto, continuam a colocar o material cheque. Um dos trabalhos de fôlego mais recentes sobre o Sudário resultou no livro O Sinal, publicado em 2012 pelo historiador de arte inglês Thomas de Wesselow. A conclusão do esforço é ambígua: se, por um lado, não é possível provar que o manto de Turim é a mortalha do corpo de Cristo, também não existem provas irrefutáveis de que não seja. Em pleno século XXI, o Santo Sudário continua a integrar o grupo dos “mistérios da fé”.

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