Um ensaio geral do conclave
Reunião em Roma alimentou os rumores de que o papa Francisco poderia vir a renunciar, com a saúde fragilizada, aos 85 anos

O papa Francisco não dá ponto sem nó em seus movimentos para ampliar o número de fiéis e modernizar a Igreja. Ele convocou a Roma, na semana passada, um consistório — o oitavo de seu pontificado — de modo a refletir a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, que reforma o cotidiano burocrático da Santa Sé. Chamou atenção a composição do colégio cardinalício, com vinte novos representantes de diversos países, inclusive da Mongólia, onde há menos de 1 500 católicos. O número de cardeais afeitos a escolher o papa em eventual conclave, por terem menos de 80 anos, subiu de 116 para 132 — entre eles dois nomeados do Brasil, o arcebispo de Brasília, Paulo Cezar Costa, e o arcebispo de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner. Lembre-se de que quase dois terços dos ungidos foram escolhidos por Francisco, e são eles que estarão na Capela Sistina a caminho da fumaça branca. Não por acaso, a convocação foi tratada como um “pré-conclave”, um ensaio geral para a sucessão de Francisco. Alimentou também os rumores de que ele poderia vir a renunciar, com a saúde fragilizada, aos 85 anos. Contribuíram para a boataria o encontro coletivo com o papa emérito Bento XVI, de 95 anos, e a homenagem prestada pelo pontífice argentino a Celestino V, que deixou o posto em 1294. “Aos olhos dos homens, os humildes são vistos como fracos e perdedores, mas, na realidade, são os verdadeiros vencedores porque são os únicos que confiam completamente no Senhor e conhecem sua vontade.” Francisco, o papa simples, joga xadrez o tempo todo. É bom prestar atenção em seus passos.
Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805