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A mesmice que dá certo

A chanceler Angela Merkel, que faz da discrição uma habilidade política e está à frente de uma economia em crescimento, tenta seu quarto mandato

Por Johanna Nublat e Luiza Queiroz
Atualizado em 22 set 2017, 06h00 - Publicado em 22 set 2017, 06h00

Enquanto as eleições deste ano na França, na Holanda e na Inglaterra provocaram apreensão por causa da ascensão de políticos populistas, o pleito legislativo na Alemanha, que acontece neste domingo 24, tem despertado pouco drama. As pesquisas de opinião indicam 13 pontos porcentuais de vantagem para os partidos CDU (União Democrata Cristã) e CSU (União Social Cristã), que integram a aliança da chanceler Angela Merkel. Aos 63 anos, ela está prestes a conquistar seu quarto mandato e, com isso, poderá totalizar dezesseis anos no poder. Se completado o período, seu tempo no cargo terá sido equivalente ao de Helmut Kohl (1982-1998), que conduziu a reunificação da Alemanha e foi o chanceler mais longevo desde a II Guerra.

Nos últimos anos, populismo e nacionalismo ganharam força nos Estados Unidos e na Europa com o sentimento crescente entre muitos eleitores de que o futuro não lhes reserva uma vida tão próspera como a que tiveram seus pais. Na Alemanha, esse medo não existe. Segundo um estudo da Fundação Bertelsmann, 59% dos alemães dizem acreditar que o país está na direção correta. Entre os franceses, essa percepção é de 36%. Entre os ingleses, de 31%. Quando indagados sobre a avaliação que têm da democracia em seu país, 63% dos alemães se dizem satisfeitos, contra a média de 50% nos 28 países da União Europeia. Quase oito em cada dez alemães declaram que sua situação econômica melhorou ou se manteve igual nos últimos dois anos. Menos de 60% dos franceses afirmam o mesmo. “Não há nenhum segredo no fato de Merkel continuar ganhando eleições. A economia alemã está funcionando bem, o desemprego é baixo e os alemães respeitam a chanceler, apesar de nunca se mostrarem dispostos a amá-la”, diz Dan Hough, especialista em política alemã da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Como a percepção é que o seu país funciona, os alemães relutam em balançar em direção a opções potencialmente radicais. Cerca de 80% afirmam considerar-se no centro do espectro político. Fatores que estimularam discursos extremistas em outros países não prosperaram. O fluxo de refugiados diminuiu bastante. Os pedidos de asilo na Alemanha caíram de 890 000, em 2015, para 280 000, em 2016. O último grande ataque terrorista, que matou doze pessoas em Berlim, ocorreu em 2016.

Adversário – O partido de Schulz, o SPD, pode deixar a coalizão do governo
Adversário – O partido de Schulz, o SPD, pode deixar a coalizão do governo (Wolfgang Rattay/Reuters)

A tenacidade de Merkel no governo também está relacionada à forma como ela se comporta, enigmática como “esfinges, divas e rainhas”, nas palavras da revista alemã Der Spiegel. Merkel evita comprometer-se quando fala, muda de posição sempre que necessário e move-se em linha com a opinião pública. Um exemplo dessa adaptabilidade mostrou-se na aprovação do casamento gay pelo Parlamento, em junho. Sob pressão de três partidos que podem vir a integrar seu próximo governo, e com a maioria dos alemães favorável ao casamento igualitário, ela driblou a rejeição de seu próprio partido à medida, abrindo caminho para que cada deputado votasse segundo sua consciência. Merkel votou contra, mas a proposta passou.

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A amena disputa eleitoral foi pautada pela discussão em torno do tipo de arranjo político que Merkel vai buscar para governar, já que não está garantida a manutenção da atual coalizão com o SPD (Partido Social Democrata), do seu adversário Martin Schulz. Para conseguir maioria, o bloco da chanceler, CDU/CSU, poderia aliar-se aos liberais do FDP (Partido Livre Democrático), sem representantes no Parlamento, e aos Verdes. A coalizão que une centro-direita, liberais e ambientalistas foi apelidada de “Jamaica”, em alusão às cores das três legendas. “Uma coligação com o FDP ou com os Verdes seria um pouco mais reformista que o governo atual”, diz Jeffrey Anderson, especialista em Alemanha da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Mas não se devem esperar reviravoltas na política alemã — o que é um bom sinal.

Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2017, edição nº 2549

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