Quando a crise na segurança pública do Rio de Janeiro fez o governador Luiz Fernando Pezão jogar a toalha, levando o presidente Michel Temer a anunciar a intervenção federal nas polícias fluminenses, a preocupação maior estava centrada na criminalidade relacionada ao tráfico de drogas e à guerra de facções. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Pedro Gomes, em 14 de março, lançou os holofotes sobre a atuação das milícias, que começaram como grupos paramilitares vendendo proteção aos cidadãos nas áreas onde a atuação do Estado era pífia, mas com o tempo ampliaram suas atividades ilegais — como a cobrança de “arrego” (propina) para todo tipo de serviço à população, de venda de gás a entrega de produtos para o varejo — e hoje absorvem ex-traficantes e assaltantes em suas fileiras. Em meio à pressão para que encontrassem os culpados pela execução de Marielle e Anderson, as autoridades trataram de apresentar pelo menos algum tipo de ação contra as milícias que pudesse ser creditado como efeito positivo da intervenção. No sábado 7, a Polícia Civil, com o apoio da inteligência militar, prendeu de uma só vez 159 integrantes da maior milícia, a Liga da Justiça, em uma festa na periferia do Rio. O número representa 10% do total de milicianos presos nos últimos doze anos no estado. No tiroteio, quatro criminosos morreram. O chefe do bando conseguiu escapar. Foram apreendidos treze fuzis, quinze pistolas e dez carros roubados. Três dias depois, 63 operações da intervenção tiveram de ser suspensas por falta de verba federal. As milícias agradecem.
Publicado em VEJA de 18 de abril de 2018, edição nº 2578