Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

A viagem da gripe

Os altos índices de hospitalização e morte nos EUA chamam atenção para o inverno no Brasil. Não há motivo para pânico, mas vacinar-se será imprescindível

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h31 - Publicado em 23 mar 2018, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Há 100 anos, teve início a mais terrível pandemia da história, a gripe espanhola. De março de 1918 a abril de 1919, 50 milhões de pessoas morreram infectadas, o equivalente, na época, a 3% da população mundial. Um século se passou, criaram-se vacinas, há muito mais conhecimento sobre o vírus causador, o influenza, e no entanto a doença continua a surpreender — embora sem a letalidade de antes.

    No inverno deste ano a gripe está fazendo estragos nos Estados Unidos. O número de internações até maio, na primavera e no fim da temporada da gripe, ultrapassará o triste recorde das 970 000, de 2015. As mortes podem chegar ao absurdo de 56 000. É uma estatística acachapante, que levou à adoção de medidas extraordinárias, como a montagem de tendas de triagem e postos de atendimento nas calçadas. Até cirurgias eletivas de outras doenças chegaram a ser canceladas para a abertura de leitos destinados a pacientes com gripe. A questão que se impõe: como é possível, mesmo com tanto avanço da medicina, que a gripe ainda mate?

    A explicação está nas características da doença. O vírus da gripe sofre mutações a todo momento. Não há outro microrganismo com tal capacidade. Para sobreviver, ele se adapta ao ambiente mudando constantemente a forma como as proteínas de sua superfície são organizadas, enganando, assim, as vacinas. As mutações mais drásticas (e menos comuns) deflagram novos subtipos (ou cepas) com particularidades genéticas inéditas. O subtipo responsável pela atual epidemia americana é o H3N2, uma versão agressiva e com imensa capacidade de alastramento. Ele provoca os mesmos sintomas de qualquer outra gripe, só que mais intensos, em especial entre crianças e idosos. Dada a velocidade de mudança do vírus, há uma corrida muitas vezes inútil para a fabricação de novas vacinas. Isso porque a intensa mutação do vírus da gripe faz com que elas cheguem à população já envelhecidas, obsoletas.

    A composição da vacina é definida anualmente pela Organização Mundial da Saúde, após cada inverno. A partir da coleta de mais de uma centena de subtipos que circularam no mundo todo durante a estação, a entidade define as quatro cepas que deverão ser prevalentes no ano seguinte. As mutações mais drásticas são também as mais difíceis de prever, como foi o caso do H3N2. A vacina atualmente usada nos Estados Unidos previa combate a essa modalidade — mas o vírus já está levemente alterado, o que faz com que a vacina perca eficácia. O vírus H3N2, na verdade, não é novo. Ele surgiu em 1968, causando a chamada gripe de Hong Kong, a terceira maior epidemia do século XX. De lá para cá, nunca deixou de circular, ainda que de forma mais restrita. Ele se torna mais ou menos agressivo a depender da mutação e da prevalência sazonal.

    Continua após a publicidade

    A gripe que assola os Estados Unidos já chegou ao Brasil, com setenta infecções e quatro mortes, a maior parte nas regiões Sul e Sudeste. Muitos dos casos foram trazidos por pessoas que visitaram os Estados Unidos ao longo deste inverno. Mas o cenário que se verifica no Hemisfério Norte muito provavelmente não se repetirá no Brasil. Não há certeza de que a versão do H3N2 será tão virulenta por aqui — as mutações podem ou não ser as mesmas. Além disso, a vacina utilizada no Brasil deverá ter resultados melhores. Fabricada pelo Instituto Butantan, ela está sendo desenvolvida para combater uma versão mais próxima do H3N2 em circulação nos Estados Unidos. Tomá-la, dizem os especialistas, é compulsório. “Mesmo quando a imunização não protege totalmente, ela torna a infecção mais branda”, diz o infectologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo. O recado torna-se ainda mais relevante diante da habitual baixa adesão do brasileiro à vacina da gripe. O início da campanha de vacinação está previsto para abril.

    Publicado em VEJA de 28 de março de 2018, edição nº 2575

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.