Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Ainda tem muito chão

Pesquisa mostra que o sistema de cotas fez aumentar o número de negros no ensino superior, mas a proporção de brancos cresceu mais ainda no mesmo período

Por Luisa Bustamante Atualizado em 4 jun 2024, 16h50 - Publicado em 15 jun 2018, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ao começar a ser implantado em 2002, o sistema de cotas prometia ser um impulso vital na direção do fim da desigualdade entre negros e brancos no ensino superior brasileiro. Graças às cotas, de fato, o número de negros universitários praticamente quadruplicou. Naquele ano, do total de jovens pretos e pardos entre 18 e 24 anos no Brasil, apenas 3,8% estavam nas universidades. Passados quinze anos, a proporção subiu para 14% — o que é uma excelente notícia. Uma pesquisa inédita mostra, no entanto, que, apesar desse avanço louvável, a desigualdade racial no ensino superior praticamente não se alterou — na verdade, ela até cresceu.

    arte-cotas
    (./.)

    Estudo do Instituto IDados, do Rio de Janeiro, baseado em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), informa que, em 1992, do total de jovens negros apenas 1,5% estava matriculado em universidades, enquanto os brancos eram 7,3% — uma diferença de 5,8 pontos porcentuais. Em 2017, os negros alcançaram os citados 14%, mas a proporção de brancos disparou para 27% — ou 13 pontos de diferença. A explicação está no crescente papel no ensino superior brasileiro das universidades privadas, que não cabem no bolso da população pobre (no Brasil, quase sinônimo de negra). As cotas são obrigatórias nas instituições públicas e todas (menos a Universidade Estadual do Paraná) aderiram ao sistema.

    Desde a implantação das cotas, as matrículas nas escolas federais e estaduais — de negros e brancos — dobraram. Nas privadas, triplicaram. É nelas, hoje, que estão três de cada quatro universitários. “A maior parte desse aumento de matrículas veio de financiamentos públicos, e quem se beneficia deles é a população branca”, diz a pesquisadora Talita Mereb, do IDados. Isso explica por que a diferença se tornou ainda maior. Assim, a ideia de que a proporção de negros e brancos nas universidades seja igual à da população em geral acabou ficando mais distante.

    Continua após a publicidade

    Por mais que as cotas tenham aumentado o número de negros no ensino superior, elas continuam sendo, e sempre serão, uma ferramenta paliativa — selecionam os melhores e deixam de fora a enorme massa de negros que nem passa das fases iniciais do aprendizado. “É mais eficaz e barato corrigir as distorções no acesso ao ensino, na primeira infância, quando o cérebro da criança está sendo formado. Tudo o que acontecer nos dois primeiros anos de vida de um ser humano tende a se perpetuar ao longo de sua vida”, diz João Batista de Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. Enquanto o ensino básico público não tiver qualidade, negros e pobres continuarão a perder a corrida para a universidade.

    Publicado em VEJA de 20 de junho de 2018, edição nº 2587

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.