Existe uma área na educação em que o Brasil se descola dos piores e, acreditem, é referência mundial: o sistema nacional de avaliação do ensino no país, com seus múltiplos termômetros para aferir a qualidade na sala de aula, não deixa nada a dever ao de nações mais desenvolvidas. Daí a profusão de siglas (Ideb, Enem, Enade) que sinalizam o patamar acadêmico de escolas e universidades, estados e municípios. A fartura estatística é um começo vital para entender o que ainda nos distancia da excelência, mas é só um começo. Na verdade, os números acabam mofando na gaveta de autoridades e educadores, de escasso uso na prática, e uma boa iniciativa é posta inapelavelmente no lixo. Nesse contexto é bem-vinda uma medida tomada pela Secretaria de Educação de São Paulo, que implantou neste mês em todas as escolas estaduais da capital um projeto que já se revelou eficaz em uma amostra-piloto: ele justamente se debruça sobre os mapas de desempenho de cada escola para tentar debelar suas deficiências de forma certeira.
O programa une alguns princípios simples de gestão. As escolas passaram a ter acesso a uma plataforma on-line na qual aparece de maneira esmiuçada sua performance no Idesp, o indicador de qualidade da rede estadual paulista que leva em conta a nota dos alunos em provas bimestrais de português e matemática. É aí que entram em cena consultores externos para ajudar a escola a navegar nessa maré estatística e depreender um ou dois problemas, não mais que isso, que sejam motores do mau desempenho geral. No caso do colégio Sérgio da Silva Nobreza, na Zona Leste, uma das 77 instituições a participar do piloto em 2016, a causa-mor para o festival de notas vermelhas era a dificuldade dos alunos em atribuir significado ao que liam. “Todas as disciplinas passaram a trabalhar a leitura ao seu modo, inclusive a educação física”, conta a diretora Miriam Ribeiro. As planilhas exibiram o saldo depois de três meses: a turma que ia muito mal em português encolheu de 32% para 10% dos estudantes.
O programa, batizado de Gestão em Foco, é tocado em conjunto com a ONG Parceiros da Educação, apoiada por empresários, que, além de fornecer consultoria, auxilia no treinamento para que os diretores aprendam a lidar sozinhos com a aridez das planilhas e envolvam professores, pais, alunos e funcionários. Cada parte tem um representante numa espécie de conselho criado para acompanhar o plano, em torno do qual todos se mobilizam. “Quando não se voa no escuro, as chances de ganhos de eficiência no ensino são enormes”, diz o economista Gustavo Ioschpe. Sendo barato, o programa é replicável em grande escala, uma virtude para qualquer política pública. A meta é chegar a 100% da rede do estado em 2019. Detalhe: as planilhas estão fixadas na entrada das escolas. Pais, podem cobrar.
Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2017, edição nº 2546