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De cúmplices a rivais

Na corrida pela delação, Eduardo Cunha está atrás do doleiro Lúcio Funaro, seu antigo parceiro de negociatas

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 ago 2017, 06h00 - Publicado em 19 ago 2017, 06h00

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro mantinham uma notória relação de simbiose. A missão de Cunha, o chefe, era galgar degraus na hierarquia do poder, ganhar prestígio e conquistar o direito de indicar afilhados para cargos na administração. Funaro, seu operador, era encarregado de azeitar a engrenagem de cobrança de propina de empresários interessados em recursos públicos. Durante quase duas décadas, a parceria foi um sucesso. Cunha e Funaro embolsaram dinheiro sujo desviado de fontes diversas, da Caixa Econômica Federal à Petrobras. Foi assim até a Operação Lava-Jato. Presos desde o ano passado, chefe e operador se distanciaram e, agora, duelam pelo direito de fechar um acordo de delação. Nas negociações com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os dois prometem coisas parecidas, como acusar o presidente Michel Temer de comandar a coleta de propina feita por peemedebistas. Até por isso, os procuradores trabalham com a perspectiva de selar acordo com apenas um deles, e não com os dois.

Nessa corrida, o doleiro encontra­-se em vantagem. “Funaro já está com a cabeça de delator, enquanto Cunha apresentou temas interessantes, mas insuficientes para o avanço das investigações”, afirma um integrante da Lava-Jato. Antes de ser preso, Funaro dizia que ele e Cunha eram capazes de derrubar Temer “em cinco minutos”. Funaro trabalhou para a JBS, cujos donos declararam ter repassado milhões de reais em propina a próceres do PMDB — entre eles, pessoas da confiança de Temer. Ele também é considerado peça-chave na investigação que tenta descobrir a identidade dos beneficiários finais dos 10 milhões de reais dados pela Odebrecht a peemedebistas a pedido do presidente da República. Na última semana, ao deixar uma audiência, o doleiro fez pressão pelo fechamento da delação ao afirmar que ainda tem o que entregar sobre Temer.

Em entrevista a VEJA, em março de 2017, Funaro declarou ter se reunido pessoalmente com o presidente, que nega conhecê-lo. Com a delação, essa história poderá ser esclarecida. Funaro demonstra disposição para fulminar ainda figurões do PMDB como o ex­-ministro Geddel Vieira Lima e o ministro Moreira Franco. Na semana passada, Geddel, que chefiava a Secretaria de Governo de Temer, foi denunciado pela PGR por tentar impedir a delação do doleiro. Diante do avanço das tratativas com Funaro, investigadores resolveram emparedar Cunha, declarando suspensa a negociação de seu acordo. Para recuperar terreno, ele apresentou novos capítulos sobre esquemas de corrupção e ofereceu-se para se reunir com os procuradores e relatar de viva voz as revelações que pretende fazer. O que o prejudica é sua fama de mentiroso contumaz.

Nos últimos anos, Cunha atuou como arrecadador informal do PMDB. Disse ter obtido doações da Odebrecht para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo e a de Henrique Alves, hoje preso, ao governo do Rio Grande do Norte. Ambas tinham como padrinho o presidente Temer. Cunha e Funaro correm contra o tempo. Rodrigo Janot não quer encerrar seu mandato na PGR, em setembro, sem antes denunciar Temer por obstrução de Justiça e organização criminosa.

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Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2017, edição nº 2544

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