Antes que as candidaturas presidenciais se definissem, havia uma crença entre observadores da política de que, tão logo o centro apresentasse seus candidatos, Lula e Jair Bolsonaro seriam empurrados para os seus devidos lugares, as extremidades do espectro eleitoral. A pouco mais de dois meses das eleições, no entanto, os principais integrantes da centro-esquerda e da centro-direita — Marina Silva (Rede-AC), Ciro Gomes (PDT-CE), Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Henrique Meirelles (MDB-DF) — continuam sem empolgar o eleitor. A pesquisa encomendada por VEJA ao instituto Ideia Big Data põe em termos cristalinos essa indiferença. No cenário eleitoral mais provável, que exclui o ex-presidente Lula, todos os principais concorrentes mantiveram o patamar de intenções de voto em relação ao último levantamento do Datafolha, publicado em junho. Apenas Ciro Gomes perdeu 3 pontos na pesquisa estimulada — passou de 10% para 7%.
A variação do pedetista ainda está na margem de erro, mas põe um freio na curva de ascensão que ele apresentava no primeiro semestre. Ciro, cujo desempenho é melhor no Nordeste, seu berço político, também viu as intenções de voto nele envergar nos cenários de segundo turno. De acordo com a pesquisa do Datafolha de junho, o pedetista ganharia de Bolsonaro. Agora, Bolsonaro virou o jogo e ficou com a vantagem. Hoje, derrotaria Ciro por 27% a 25% dos votos, conforme o Ideia Big Data.
Marina Silva permanece estável, com 10% e 11% das intenções de voto, a depender da presença de Lula na pesquisa. Esse mesmo patamar é equilibrado em todas as regiões do país, exceto no Sudeste, onde ela alcança 12%. No perfil do eleitorado, Marina é a favorita do público feminino — entre as mulheres entrevistadas, 14% votariam nela, o maior porcentual entre todos os candidatos. A maioria de seu eleitorado é jovem (de 16 a 34 anos) e está em todas as faixas de escolaridade. Se fosse para o segundo turno contra Bolsonaro, teria vantagem de apenas 2 pontos porcentuais, numa queda bastante acentuada. No levantamento do Datafolha de junho, a diferença era de 10 pontos porcentuais: 42% contra 32%.
Geraldo Alckmin, institucionalmente o político mais vitorioso das últimas semanas — conseguiu atrair para sua órbita os disputados partidos do Centrão e, com eles, gordos sete minutos e meio de propaganda eleitoral na TV —, ainda não pôde ver a conversão desse movimento em intenções de voto. Permanece com um dígito nas pesquisas e perde para Bolsonaro até mesmo no Sudeste, onde construiu toda a sua carreira política. O sonho da equipe de Alckmin seria atrair para o seu entorno o senador Alvaro Dias, que tem conquistado eleitores tucanos especialmente do Sul. Na região, por influência do eleitorado paranaense, Dias domina com 23% das intenções, seguido por Bolsonaro, com 21%.
Henrique Meirelles, candidato de Michel Temer, tem a árdua missão de se apresentar ao eleitorado como colaborador de um governo afundado em denúncias de corrupção e fracassado na tentativa de se mostrar responsável por uma melhora econômica nunca percebida. O fato de não ter conseguido descolar do patamar de 1% a 2% de intenções de voto não surpreende. Afinal, nada menos do que 92% dos entrevistados pelo Ideia Big Data afirmaram que jamais votariam em um candidato indicado pelo presidente Michel Temer — uma rejeição sem igual. São cada vez mais audíveis as vozes a aconselhar Meirelles a abandonar o pleito. Em mais uma prova do fastio do eleitorado para com a política e os políticos, 73% dos entrevistados disseram não se identificar com nenhum partido (a legenda com maior preferência, chegando a 15% do eleitorado, continua sendo o PT). Mas a disputa eleitoral mantém-se aberta: 43% dos eleitores não têm candidato ainda. Não é um porcentual alto, os indecisos já foram mais volumosos em outras eleições, mas 43% são o suficiente para mudar o jogo todo.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593