Foram nove meses de combates ferozes, ao longo dos quais, como sempre, o sofrimento maior recaiu sobre a população civil. Até que, em julho, finalmente o Estado Islâmico (EI) foi derrotado em Mossul pelo Exército iraquiano, por milícias xiitas e curdas e por bombardeios americanos. Cerca de 40 000 pessoas morreram e 3,5 milhões abandonaram suas casas. A cidade no Iraque era, ao lado de Raqqa, na Síria, uma das capitais do grupo, que impunha sua versão do Islã com massacres contra minorias étnicas e religiosas. Três meses depois da libertação de Mossul, foi a vez de Raqqa ser retomada por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. Há duas semanas, o primeiro-ministro Haider al Abadi anunciou que as últimas áreas do Iraque ainda sob controle do grupo terrorista haviam sido totalmente liberadas. Dias mais tarde, o presidente russo Vladimir Putin, não querendo ficar atrás dos americanos, gabou-se de, com a ajuda das forças do ditador sírio Bashar Assad, ter subtraído do EI seus derradeiros bastiões na Síria. Em seu auge, em 2014, o grupo chegou a comandar mais de um terço do território do Iraque e da Síria.
O fato de os terroristas não terem mais domínios territoriais é uma ótima notícia, mas isso não significa que deixaram de ser uma ameaça. Sim, eles perderam suas bases seguras para treinar jihadistas e suas principais fontes de financiamento, como o contrabando de petróleo iraquiano, mas sua ideologia niilista e o ânimo para promover atentados tendem a continuar vigorosos em 2018. Dispersos, muitos dos radicais europeus que haviam se juntado ao EI na Síria e no Iraque agora voltarão a seu país de origem dispostos a perpetrar ataques como o que matou 22 pessoas, muitas adolescentes, em um show da cantora Ariana Grande em Manchester, na Inglaterra, em maio. A vigilância terá de ser redobrada.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562