Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Deslize da Lava-Jato

Depois de uma investigação que não conseguiu uma única prova além das acusações dos delatores, Gleisi Hoffmann, presidente do PT, é absolvida pelo STF

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h46 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00

O Supremo Tribunal Federal (STF) escancarou o primeiro grande tropeço nas investigações da Lava-Jato conduzidas por Brasília. Na terça-feira 19, por unanimidade, os ministros absolveram a senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT, dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Gleisi foi acusada por delatores de receber 1 milhão de reais em propina do esquema de corrupção na Petrobras. Os ministros, no entanto, entenderam que a Procuradoria-Geral da República não apontou no processo nenhuma prova capaz de corroborar a acusação dos colaboradores. O veredicto serve de alerta à Polícia Federal, cuja investigação não conseguiu colher uma única evidência além das delações, e ao Ministério Público, que acabou apresentando uma denúncia inepta.

Incluída na primeira lista de suspeitos elaborada pelo então procurador­-geral da República Rodrigo Janot, Gleisi foi acusada pelo doleiro Alberto Youssef como destinatária de 1 milhão de reais em propina. Outros dois colaboradores da Justiça, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e o advogado Antônio Carlos Pieruccini, que fazia bicos como entregador de dinheiro para Youssef, confirmaram o envio dos recursos à senadora. Fora isso, o máximo que os investigadores conseguiram anexar ao processo foram extratos telefônicos mostrando que os supostos corruptos e corruptores se comunicaram entre si. Além disso, anexaram um papelucho de um dos delatores com a anotação “1,0 PB”, julgando que isso poderia ser prova de que o valor (“1,0”) foi encaminhado a pedido do ex-ministro petista Paulo Bernardo (“PB”), marido de Gleisi. O STF achou que os extratos telefônicos e o bilhete não provavam coisa nenhuma.

Deslize da Lava-Jato
1 MILHÃO – Delator (à esq.) mostrou à Polícia Federal onde entregou a propina (./VEJA)

Para que fosse caracterizado o crime de corrupção, a Procuradoria-Geral da República precisava ter demonstrado não apenas que Gleisi recebeu 1 milhão mas que deu uma contrapartida qualquer. No julgamento, o subprocurador-geral da República Carlos Vilhena até que tentou fazer essa conexão fundamental. Ele justificou que a senadora dava suporte político ao então diretor Paulo Roberto Costa e que, pelos altos cargos que ocupava, Gleisi deveria ter “estancado a sangria” da Petrobras. Problema: em 2010, ano do repasse de propina, Gleisi ainda não era parlamentar, não ocupava nenhum cargo público e , até onde se sabe, tampouco tinha ascendência sobre a estatal petroleira. “O Ministério Público não conseguiu provar nem a perspectiva da prática de algum ato inerente a seu futuro ofício parlamentar”, observou o decano Celso de Mello, revisor do processo.

Sem provas para enquadrar a senadora nos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, dois ministros — Edson Fachin e Celso de Mello — ainda entenderam que existia pelo menos a prova de que o 1 milhão de reais havia chegado à campanha de Gleisi e, portanto, consideraram a senadora culpada pelo crime de falsidade ideológica eleitoral — ou seja, caixa dois. Os outros três ministros da turma do STF que julgou o caso — Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski — discordaram, achando que não havia evidência concreta nem mesmo de caixa dois. De novo, tudo se sustentava apenas nas acusações dos delatores. “O reforço de provas materiais é raquítico e inconclusivo. A presunção de inocência impõe à acusação o ônus de comprovar as acusações”, afirmou Gilmar Mendes.

Continua após a publicidade
Deslize da Lava-Jato
JULGAMENTO –  Ministros criticaram o trabalho da PF e da PGR (Evaristo Sá/AFP)

O julgamento favorável a Gleisi Hoffmann não encerra as pendências da senadora com a Justiça. Ela e o marido, Paulo Bernardo, são alvo de outras três ações. A principal delas envolve suspeitas de desvio de 100 milhões de reais do Ministério do Planejamento. Ao contrário do caso que foi julgado, essa investigação reuniu documentos que mostram o caminho do dinheiro desviado, da origem ao destino final. Com isso, é possível que ela renda uma condenação. A lição que fica no caso de Gleisi é ululantemente óbvia: a Polícia Federal e o Ministério Público, para combater a impunidade, precisam trabalhar direito.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.