Guerrilha eleitoral
Um futuro ainda incerto: o favorito à Presidência da Colômbia é contra o acordo de paz de 2016, que levou à deposição das armas pelas Farc
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Depois de décadas sangrando com a guerrilha das Farc, a Colômbia finalmente chegou a um acordo de paz em 2016. Mas, até hoje, ele ainda é um fantasma. Para a eleição do domingo 27, o líder nas pesquisas, Iván Duque, com 41,5% das intenções de voto, fez uma campanha de combate ao acordo. Na Colômbia de hoje, essa é uma bandeira fácil de levantar: 74% da população desaprova a sua implementação, o que explica, em parte, a liderança de Duque nas pesquisas.
Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e segundo colocado, com 29,5%, é um entusiasmado defensor do acordo. Com 16,3%, o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo está em terceiro lugar. Também defende a manutenção do acerto de paz. “Petro ou Fajardo, se eleitos, garantiriam o cumprimento do acordo”, diz o cientista político Juan Rendón, da Universidade de Antioquia.
A rejeição popular ao acordo de paz deve-se, em parte, à lentidão de sua implementação. Em um ano, somente 18,3% dos termos nele previstos saíram do papel. A reforma rural nas áreas onde a guerrilha atuava avançou apenas 5%. Mas também há rejeição a alguns pontos, como a anistia aos guerrilheiros das Farc que depuseram as armas e a reserva de dez assentos no Congresso para os líderes do grupo. “O acordo contém garantias para que não seja possível abandoná-lo totalmente, mas com certeza Duque tentará modificá-lo em alguns aspectos”, diz o cientista político Alejo Vargas, da Universidade Nacional. A anistia aos que cometeram crimes de narcotráfico é um dos pontos que Duque quer derrubar. A realização de um segundo turno, em 17 de junho, é altamente provável. E não se descarta uma reviravolta nos resultados. Afinal, o plebiscito sobre o acordo em 2016 e as eleições de 2014 mostram que as pesquisas colombianas costumam errar feio.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2018, edição nº 2584