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Mestre do ofício

Britânico nascido no Japão, Kazuo Ishiguro foi uma escolha convencional mas acertada para o prêmio que, em 2016, optou por um músico no lugar de um escritor

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 out 2017, 06h00 - Publicado em 6 out 2017, 06h00
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  • Junte Jane Austen e Franz Kafka. Acrescente uma pitada de Marcel Proust à mistura. Então mexa, mas não muito. Pronto: você terá a literatura de Kazuo Ishiguro. Foi com esse símile culinário que a secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, definiu a obra do mais recente laureado com o Nobel de Literatura, em entrevista logo após o anúncio do prêmio, na quinta-feira 5. A receita está basicamente correta, mas talvez fosse o caso de acrescentar certos temperos exóticos ao realismo de Jane Austen, ao absurdo de Kafka e ao mergulho profundo na memória de Proust. O mais recente romance do autor, O Gigante Enterrado, é uma fantasia, com magia, dragões e cavaleiros, à moda de J.R.R. Tolkien (embora Ishiguro diga que nunca leu O Senhor dos Anéis). Não Me Abandone Jamais, sobre clones criados para doar órgãos, é ficção científica, ainda que com a acurada observação social e psicológica de (ela de novo) Jane Austen. Romancista com um apuro bastante convencional de estilo, Ishiguro, 62 anos, afasta-se da heterodoxa premiação de 2016 — que distinguiu não um escritor, mas um roqueiro, Bob Dylan —, mantendo, ao mesmo tempo, vínculos com a cultura pop. Para alívio da academia, o escritor já reconheceu e agradeceu a premiação, deferência que Dylan demorou a fazer.

    Ishiguro nasceu em Nagasaki, no Japão. Sua família o levou para a Inglaterra quando ele tinha tenros 5 anos. É cidadão britânico, escreve em inglês, e, embora tenha visitado Nagasaki nos dois primeiros romances, ficou conhecido por tratar de temas muito britânicos. Os Vestígios do Dia (1989), obra que consolidou a fama internacional do autor, é um drama psicológico sobre a vida de rígida observância à ordem do mordomo Stevens, vivido no cinema por Anthony Hopkins. Esse romance foi escrito em um esforço intensivo, ao longo de apenas quatro semanas (e com a inusitada influência de uma canção de Tom Waits sobre um episódio fulcral da história, conforme o autor revelou em um texto publicado no jornal The Guardian). Mas Ishiguro é, no geral, um escritor vagaroso: publicou apenas oito livros em 35 anos de carreira. Fez roteiros de cinema e letras para canções de Stacey Kent. “Ele toca violão e compõe canções também”, declarou Salman Rushdie, celebrando o Nobel do amigo com uma provocação ao premiado anterior: “Roll over Bob Dylan”. A gíria — algo como “sai pra lá, Bob Dy­lan” — ecoa o conhecido rock de Chuck Berry, Roll Over Beethoven.

    Discreto, sem pendores militantes, Ishiguro é uma escolha marcadamente literária. Ficcionistas mais vigorosos — do israelense Amós Oz ao americano Cormac McCarthy, passando por companheiros de geração nas letras britânicas como Julian Barnes, Ian McEwan e o próprio Rushdie — poderiam estar no seu lugar. Mas ele merece esse lugar.

    Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2017, edição nº 2551

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