“Não tem fake news: quando está assinado pela Abril, você sabe que pode confiar cegamente”
Em entrevista especial pelos 75 anos da Abril, Márcio Oliveira destaca o poder da credibilidade e as oportunidades que surgem com a expansão de formatos
Márcio Oliveira é co-CEO da Jotacom – The Cross Performance Agency. Com mais de 25 anos de experiência no mercado publicitário, construiu uma carreira sólida em posições de liderança em algumas das principais agências do Brasil e do mundo. Ao longo dessa trajetória, desenvolveu negócios, liderou grandes marcas e participou de momentos importantes da história da Editora Abril, como a criação do Planeta Sustentável, campanhas e a construção de pontes entre jornalismo, publicidade e inovação. Nesta entrevista, que integra a série especial pelos 75 anos da Abril, ele fala sobre o papel da credibilidade em tempos de desinformação, o valor da criatividade em um cenário de saturação de mensagens e a importância de criar conexões autênticas entre marcas, formatos, conteúdos e experiências.
Quando começa sua história com a Abril? É impossível falar da minha história sem falar da Abril, porque ela se confunde com as publicações, desde os gibis e ao longo desses 52 anos. A VEJA, por exemplo, foi fundamental para fazer a faculdade que fiz, porque o peso da redação era muito grande e eu estudava a partir dos temas que estavam naquelas páginas. Depois, eu procurava na revista as assinaturas das agências nos anúncios, gostava de saber quem fazia cada peça. Já no mercado, eu era da área de business das agências e precisava estar por dentro do que os clientes estavam vivendo e a Exame tinha uma parte analítica muito boa. E assim por diante.
Além de consumir a Abril, você também fez parte da concepção de projetos importantes por aqui. Como foi isso? Teve uma época em que estávamos Luiz Lara e eu atendendo a Natura, que queria focar em sustentabilidade. Ela foi uma das primeiras empresas a falar disso e queria trabalhar com papel reciclado. Nós estudamos, com toda a liderança da Abril, e criamos as páginas recicladas da VEJA. Algo como as Páginas Amarelas, com entrevista, mas também com um conteúdo totalmente ligado à sustentabilidade – e essa parte seria totalmente patrocinada pela Natura. Trouxemos a ideia para a Abril, que abraçou o projeto e o transformou em
algo muito maior. Foram 56 publicações envolvidas, cada uma com o seu conteúdo segmentado, que dava sua contribuição ao tema. Chamamos o projeto de Planeta Sustentável, trouxemos cotistas e a Lew’Lara foi a maior agência dentro da editora por uns três anos. Era muito bacana fazer esse tipo de projeto, inventar coisas e trazer pra cá.
Você participou de outras campanhas e cases com a Abril? Não existia um lançamento que não passasse pela Abril. Os lançamentos, na verdade, eram feitos no domingo, porque você tinha a VEJA e o Fantástico. Uma vez, fizemos um sequencial de 12 páginas de Visa na VEJA. Esse tipo de coisa mostrava a pujança do anunciante e da agência.
O que mudou de lá para cá? O jornalismo e o que a editora fez a vida inteira sempre foi conteúdo. Isso não muda. O que muda é onde você vai ser impactado. A mídia impressa, em um primeiro momento, era fundamental. Hoje ela continua importante, mas também temos rede social, vídeo, experiências. E isso tudo reflete o consumo de quem está do lado de cá. Eu tenho gêmeas de 18 anos e fico feliz de vê-las consumindo e usando o conteúdo feito na Abril para estudar para o vestibular, por exemplo.
“Viemos de uma realidade de pautar a sociedade. E agora estamos sendo pautados pelo consumidor. Eu acho isso maravilhoso, muito mais legal do que o monólogo que era.”
Como a publicidade lida com as novas demandas dos consumidores e com a relação com as publicações? Isso, na verdade, possibilita muita criatividade. Cabe às agências provocar a editora com relação a como uma marca pode estar ali. Não vamos entrar no editorial, mas vamos entrar com a marca na plataforma, apoiando aquela plataforma, porque queremos conversar com o público que consome aquele conteúdo. Com isso, dá para fazer muito formato, muita coisa nova. E tem também as experiências: CASACOR e Comer & Beber estão aí para mostrar essa grandeza. Você não esquece quando vive um evento desse, uma experiência dessa. Isso é contemporâneo.
Aos 75 anos, podemos dizer que você considera a Abril uma editora moderna? Acho que a história mostrou isso. Acho super legal a editora estar com essa cabeça, nesse prédio maravilhoso, com esses estúdios e, principalmente, com essa vontade e o dinamismo necessário para estar na velocidade da cultura hoje e com a força que o conteúdo tem, com o crédito que ele tem e que ninguém duvida. Não tem fake news. Quando está assinado pela Abril, você sabe que é crível, que é forte, que você pode confiar cega- mente. Isso, na velocidade da cultura, ganha uma força ainda maior.
Hoje você está à frente da Jotacom. Qual é o papel da agência hoje no mercado? Eu fiquei 18 anos na Lew’Lara, passei pela DM9, R/GA, e agora a Jota- com, que tem esse DNA digital. Tem um momento de oportunidade gigante para uma empresa como a Jota, dentro de um grupo independente brasileiro. E temos clientes importantes como Sicredi, Duolingo, Grupo Zamp, Heinz etc.
Como seu novo desafio conversa com as possibilidades que vê na Abril? A Abril está na vida das pessoas. E as pessoas comem, aprendem inglês no celular, colocam ketchup no hot dog, pegam crédito no banco. Temos essas plataformas que conversam com o público e o público que interage com esse conteúdo. Juntando a marca, os conteúdos e as plataformas da editora, tem um mar de possibilidades, é infinito.
E o que você espera para o futuro do mercado? A IA agora é o momento e chegou pra ficar, já mudou as nossas vidas e vai mudar mais. Mas continuamos em uma profissão que tem que vender a verdade que está por trás da marca. E isso é inegociável. Outro ponto é que viemos de uma realidade de pautar a sociedade. E agora estamos sendo pautados pelo consumidor. Eu acho isso maravilhoso, muito mais legal do que o monólogo que era. É louco, difícil, desgastante, mas muito mais legal.
Para finalizar, poderia deixar uma mensagem para os 75 anos da Abril? Desses 75 anos maravilhosos, eu participei de mais da metade. Então, eu fico muito feliz e honrado de estar aqui e desejo para a Editora Abril mais 150 anos, não 75. A editora merece. A excelência que ela faz, ela merece de volta.







