Quase sempre, o Nobel de Economia é outorgado a descobertas que navegam no plano das ideias e dos conceitos — um tanto distantes do cotidiano real de quem precisa pôr a mão no bolso. A premiação de 2020, contudo, ilumina um mecanismo de utilidade evidente, amplamente disseminado — a teoria geral dos leilões. Os americanos Paul R. Milgrom, 72 anos, e Robert B. Wilson, 83 anos, passaram a vida estudando os modelos de venda de bens e serviços para depois transferi-los a modelos práticos, por meio de programas de computador. A engrenagem imaginada pelos pesquisadores da Universidade Stanford, evidentemente acelerada pelos atuais avanços da internet, a um toque de dedo, beneficia transações corriqueiras, como as de sites como o eBay, mas também as mais complexas, como as dos mercados de eletricidade e de frequência da banda 5G, que deve ocorrer no Brasil nos próximos meses.
Essa área de estudo, que já levou um Nobel em 1996, com William Vickrey, analisa de que forma compradores e vendedores defendem seus interesses em circunstâncias diferentes. O comportamento de quem faz os lances depende da informação do produto que querem arrematar, mas também daquilo que imaginam que os outros interessados sabem e, claro, do formato do leilão. O mais conhecido é o inglês, em que o vendedor estabelece um preço inicial baixo e as ofertas vão aumentando. Mas há também o holandês, em que o vendedor estabelece um patamar alto e vai baixando o valor progressivamente, até que algum comprador o aceite. Milgrom e Wilson puseram todas essas informações em jogo e da mistura extraíram saídas inovadoras.
Em um dos recursos imaginados por eles, estabeleceu-se um modo de leilão para vendedores motivados muito mais por benefícios sociais do que por receita máxima, como é o caso de alguns governos. Em 1994, as autoridades dos EUA usaram pela primeira vez uma estrutura da dupla para vender frequências de rádio a operadoras de telecomunicação. Desde então, muitos países seguiram a trilha aberta. “Os laureados em Ciências Econômicas deste ano começaram com a teoria fundamental e depois usaram seus resultados em aplicações práticas, que se espalharam globalmente. Suas descobertas são de grande benefício para a sociedade”, disse Peter Fredriksson, presidente do Comitê do Prêmio. O anúncio foi feito na segunda-feira 12, em Estocolmo.
O defensor do planeta
A camada de ozônio é um escudo gasoso que envolve o planeta Terra, está entre 16 e 30 quilômetros de altitude e protege o planeta dos raios ultravioleta do sol — a radiação que desencadeia vários tipos de câncer. Coube ao cientista mexicano Mario Molina, ao holandês Paul Crutzen e ao americano F. Sherwood Rowland desvendar os efeitos derivados do rombo nessa proteção. Em 1995, o trio ganhou o Nobel de Química. Hoje, o buraco da camada de ozônio caiu a seu menor patamar desde 1982. A conquista foi resultado de iniciativas como o protocolo de Montreal, de 1987, que proibiu o uso de produtos químicos como os clorofluorcarbonos (CFCs), utilizados em aerossóis. No centro dessa revolução esteve Molina. Ele morreu aos 77 anos, em 7 de outubro, na Cidade do México, de ataque cardíaco.
Uma governanta inteira
A sitcom Two and a Half Men (Dois Homens e Meio) esteve no ar durante doze anos, de 2003 a 2015. Um de seus personagens mais engraçados era a governanta Berta, da mansão do produtor de jingles Charlie Harper, interpretado por Charlie Sheen. Quem deu vida a Berta foi a atriz americana Conchata Ferrell, de ar permanentemente sonso, irônico e inteligente. Ao saber da morte de Conchata, Sheen foi às redes sociais e escreveu: “Berta, seu trabalho no lar era um pouco suspeito, seu trabalho com as pessoas era perfeito”. Conchata tinha 77 anos. Morreu na segunda-feira 12, em Sherman Oaks, na Califórnia, de complicações cardíacas.
Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709