Numa tirada espirituosa, citada em editorial da revista The Economist, o poeta anglo-americano W.H. Auden (1907-1973) lembrou que “milhares viveram sem amor, mas ninguém jamais viveu sem água”. Recentes estudos promovidos pelo MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, preveem que, até meados deste século, mais da metade da humanidade habitará regiões com escassez de água doce. Há dois motivos: o aumento populacional, associado à expansão do consumo, e as mudanças provocadas pelo aquecimento global, que tornam os lugares úmidos mais secos. Sem falar da imundície dos oceanos, invadidos pelo lixo industrial.
Os estragos são resultado de má gestão, de distribuição equivocada e descuido. Como a água é fundamentalmente gratuita, considerada um direito inalienável, o desperdício é a regra. Na China, a indústria utiliza dez vezes mais água por unidade de produção do que a média dos países ricos. Numa outra ponta do problema, como acontece na Índia, dois terços do montante usado na irrigação são extraídos na marra, sem pagamento algum, dos aquíferos subterrâneos. No Brasil, os rios funcionam como cestos de lixo.
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É nesse preocupante cenário que Brasília receberá, entre 18 e 23 de março, a oitava edição do Fórum Mundial da Água, realizado pela primeira vez na América do Sul. O evento será palco de calorosos debates, de vasta exposição de problemas, mas também de apresentação de soluções pelas iniciativas pública e privada, que vão de projetos de dessalinização a processos de reúso.
VEJA desenha um detalhado panorama da importância da água para o planeta e mostra como o descaso humano produziu uma paradoxal escassez de material tão abundante — escassez que já levou a disputas econômicas, a tragédias humanitárias e até mesmo a guerras. A boa notícia é que ainda há tempo de mudar. O mundo pede água, tem sede, mas os atalhos de bom gerenciamento estão aí. Basta um mínimo de vontade política e empresarial.
Publicado em VEJA de 21 de março de 2018, edição nº 2574