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O populismo vence

Os partidos tradicionais e com propostas mais ao centro são castigados pelos eleitores italianos, repetindo o que já aconteceu em outros países europeus

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h42 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00

“Vivemos num mundo de espaços abertos, o que significa também certa desproteção”, escreveu o filósofo espanhol Daniel Innerarity no livro A Política em Tempos de Indignação (Leya), lançado no ano passado. Segundo ele, as migrações e a diminuição do cobertor social levaram cidadãos do mundo todo a sentir medo. Os que se assustaram com a insegurança econômica penderam para o populismo de esquerda. Os que temeram pela identidade nacional, para o de direita. Nas eleições da Itália, no domingo 4, o país foi dividido entre esses dois populismos. No sul, saiu-se vitorioso o Movimento Cinco Estrelas, invencível nas áreas mais afetadas pelo desemprego. Também em nível nacional, o Cinco Estrelas foi o partido mais votado, com 32%. No norte, ganharam os nacionalistas da Liga (antiga Liga Norte), mais fortes nas cidades que receberam maior número de imigrantes. No cômputo geral, eles alcançaram 18% dos votos.

Quem amargou derrotas irrecorríveis foram as forças tradicionais e de centro. Uma delas é o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, que governou o país por cinco anos. Ficou com 18%, 7 pontos porcentuais a menos em comparação com a eleição anterior, em 2013. O Forza Itália, de Silvio Berlusconi, de centro-direita, levou 14%, uma queda de 7 pontos. O resultado, assim, assemelha-se ao de outras eleições europeias, em que o centro político perdeu terreno para os extremos. Foi assim na Espanha, na Alemanha e na França. “O PD foi punido principalmente porque estava no governo. No referendo da reforma constitucional de dezembro de 2016, ele já tinha sido castigado”, diz o cientista político Paolo Segatti, da Universidade de Milão.

A sina dos dirigentes europeus é que as medidas de austeridade continuam sendo necessárias e sobra pouco dinheiro para executar as políticas públicas. Ao mesmo tempo, eles sofrem uma cobrança popular acima do normal. Embora a economia italiana tenha voltado a crescer (1,5% em 2017), a insatisfação não arrefece. Para piorar, o debate sem moderação nas redes sociais e as opiniões polarizadas elevam o grau de exigência em relação ao governo. Os populistas, porém, prometem o que não podem cumprir e, com isso, não há quem assuma a responsabilidade pelas questões mais urgentes. “A política é uma forma de canalizar as emoções sociais, de maneira que se tornem construtivas, e não destrutivas”, escreveu Innerarity. “O populismo é precisamente uma reação à falta de política.”

Publicado em VEJA de 14 de março de 2018, edição nº 2573

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