Tucanos sempre tiveram um jeito peculiar de fazer guerra. Raramente disparavam fogo amigo em público e, quando possível, preferiam o conforto do muro a lançar-se na arena das opiniões claras — pelo menos aquelas que mais tarde poderiam ser obrigados a modificar. Mas tudo mudou com a investida da Lava-Jato no ninho. O senador Aécio Neves, detentor de 51 milhões de votos no segundo turno da eleição presidencial de 2014 e ex-potencial candidato ao pleito de 2018, foi o primeiro a ter a imagem incinerada. As gravações entregues pelo empresário Joesley Batista à Procuradoria-Geral da República e a delação coletiva da Odebrecht aniquilaram não só o mineiro — atingiram mais cinco senadores, quatro deputados federais e três governadores do partido. Uma investigação do Cade sobre o cartel das empreiteiras e o tucanato paulista também tem o potencial de trazer dores de cabeça ao PSDB, que até recentemente vinha conseguindo manter distância de dois carimbos há muito estampados em outras siglas, o do fisiologismo e o da corrupção.
Com a briga mais recente, a pretexto da disputa pelo comando, a legenda se cindiu em dois lados: um, pró-Aécio e pela permanência da sigla no governo — corrente liderada pelo próprio. Outro, contra Aécio e a manutenção da aliança com o PMDB, trincheira encabeçada pelo ex-aliado do mineiro, o senador Tasso Jereissati. Venceu a disputa um terceiro elemento, Geraldo Alckmin. Sob o comando do governador, pré-candidato à Presidência da República, o PSDB agora se arma para seduzir o PMDB de Michel Temer a criar uma coligação capaz de fazer frente a Lula e desidratar as investidas do deputado Jair Bolsonaro.
De olho na capilaridade peemedebista, Alckmin trata o presidente como “noiva da vez”. O governador acredita que, apesar da Lava-Jato e do desgaste da classe política, ganhará a eleição quem tiver o de sempre: dinheiro do fundo partidário e minutos de televisão. Temer pensa do mesmo modo. O estupendo fato de o PMDB ser chamado de “quadrilhão” pelos investigadores da Lava-Jato e estar com sua cúpula na lama não parece constituir um obstáculo moral para a união — até porque as semelhanças entre as duas siglas agora já são bem maiores do que as diferenças.
Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562