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O roteiro da propina

Em vídeo, advogado reconstitui em detalhes o trajeto que percorreu para entregar pacotes de dinheiro desviado da Petrobras à senadora Gleisi Hoffmann

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h56 - Publicado em 27 out 2017, 06h00

Um vídeo produzido pela Polícia Federal reconstituiu quatro crimes sequenciais de corrupção e será usado pela Procuradoria-Geral da República como prova contra a senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT. Acompanhado por um investigador, o advogado Antônio Carlos Pieruccini percorreu as ruas de Curitiba para mostrar como fez chegar à senadora quatro pacotes de dinheiro derivado do esquema de subornos montado na Petrobras. É uma nova modalidade de apuração de crimes de colarinho-branco: a delação gravada e roteirizada como uma peça de cinema. Pieruccini, de 69 anos, fazia bicos como entregador de propina para o doleiro Alberto Youssef. Ganhava 1 000 reais — ou “milão”, segundo suas palavras — por cada “missão” cumprida. Em 2010, durante a campanha eleitoral, ele foi várias vezes a São Paulo para buscar as “encomendas”. Não sabia ao certo quanto carregava, mas não tinha dúvida sobre o que carregava. Na gravação, à qual VEJA teve acesso, o advogado revisita os locais onde esteve, reproduz as conversas que ouviu e confirma o que fez: levou, no total, 1 milhão de reais de propina a um emissário a serviço de Gleisi Hoffmann.

A senadora é ré em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal. Em delação premiada, Youssef revelou às autoridades ter enviado 1 milhão de reais à senadora. Para provar o que dizia, o doleiro apresentou o nome do responsável pela entrega do dinheiro, Antônio Carlos Pieruccini. O advogado assinou um acordo de delação e confirmou tudo o que o doleiro havia dito. Para que não escapasse nenhum detalhe, a Polícia Federal decidiu reconstituir o trajeto que ele percorrera e filmar tudo. Na gravação, Pieruccini conta que deixou quatro pacotes com 250 000 reais cada um com o empresário Ernesto Kugler, encarregado de receber o dinheiro em nome de Gleisi. A primeira entrega ocorreu num shopping de Curitiba. Foi tudo rápido. “Ele (Kugler) abriu o pacote, contou as cabeças (maços) do dinheiro.” E reclamou do valor: “Só isso?”.

06/07/2017- Brasília- DF, Brasil- Presidenta, Gleisi Hoffmann, durante primeira reunião do novo Diretório Nacional do PT. reunião. Presidente Lula. Foto: Lula Marques/AGPT
SORRISO AMARELO – Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT: corrupção e lavagem de dinheiro (Lula Marques/PT)

Do shopping, ainda no roteiro do vídeo, o policial e o advogado partem para o local da segunda entrega, um prédio espelhado, no centro da capital paranaense. Pieruccini relata que, dessa vez, foi recebido por Kugler numa sala mobiliada com apenas uma mesa e duas cadeiras. Nos pacotes havia a inscrição “PB/Gleisi”, diz o advogado. Era para não confundir, já que ele tinha outras entregas a fazer a outros políticos, como o deputado Nelson Meurer (PP-PR). PB eram as iniciais do marido de Gleisi, o ex-ministro Paulo Bernardo. “Ele (Kugler) pegava, contava, fazia montinhos; cada monte tinha 10 000 reais”, lembra o advogado. A terceira entrega ocorreu na própria residência do operador. Na ocasião, deu-se um breve diálogo, sempre segundo a lembrança de Pieruccini: “Eu perguntei para o Kugler: ‘Como que está a campanha?’”. Enquanto contava as notas, o empresário, sem interromper o que fazia, teria respondido: “Tranquilo. Ela já está eleita”.

O quarto e último encontro ocorreu no apartamento do advogado. Foi curto: “Foi nessa mesa aqui que foi feita a entrega de dinheiro para ele. Ele não sentou. Jogo rápido”. Depois disso, o policial anuncia o fim da gravação. Em depoimento, Gleisi disse que Kugler não participou da arrecadação de sua campanha, apesar de terem sido encontradas 29 ligações dele para o tesoureiro da petista. O vídeo, cujos principais trechos podem ser vistos no site de VEJA, foi usado pela Procuradoria para pedir a condenação da senadora, de Paulo Bernardo e do empresário Kugler por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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Cinema Lava-Jato

O vídeo gravado pela polícia reproduziu a versão do delator para a entrega de 1 milhão de reais em propina a um operador da senadora Gleisi

1 – Primeira Entrega
“Só isso?”

1 – Primeira Entrega “Só isso?”: 250 000 reais O primeiro repasse de propina foi feito no PolloShop em Curitiba. O advogado Antônio Carlos Pieruccini levou o pacote a um amigo da senadora, o empresário Ernesto Kugler, que achou pouco

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250 000 reais 
O primeiro repasse de propina foi feito no PolloShop em Curitiba. O advogado Antônio Carlos Pieruccini levou o pacote a um amigo da senadora, o empresário Ernesto Kugler, que achou pouco


2 – Segunda Entrega
“Cada monte tinha 10 000”

2 – Segunda Entrega “Cada monte tinha 10 000”: 250 000 reais A segunda entrega ocorreu numa sala de um prédio comercial indicado por Kugler. O delator explicou que foi levado ao 2º andar, onde havia apenas uma mesa e duas cadeiras

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250 000 reais 
A segunda entrega ocorreu numa sala de um prédio comercial indicado por Kugler. O delator explicou que foi levado ao 2º andar, onde havia apenas uma mesa e duas cadeiras


3 – Terceira Entrega
“Ela já está eleita”

3- Terceira Entrega “‘Ela já está eleita’”:250 000 reais O terceiro repasse foi feito na residência do empresário. Durante o encontro, ambos falaram sobre a campanha de Gleisi, ocasião em que Kugler afirmou que a petista venceria a eleição, como de fato venceu

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250 000 reais 
O terceiro repasse foi feito na residência do empresário. Durante o encontro, ambos falaram sobre a campanha de Gleisi, ocasião em que Kugler afirmou que a petista venceria a eleição, como de fato venceu


4 – Quarta Entrega
“PB/Gleisi”

4 – Quarta Entrega “PB/Gleisi”: 250 000 reais A quarta parte da propina foi deixada no apartamento do delator, o advogado Pieruccini. Os pacotes eram identificados com o nome da senadora e as iniciais do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo

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250 000 reais 
A quarta parte da propina foi deixada no apartamento do delator, o advogado Pieruccini. Os pacotes eram identificados com o nome da senadora e as iniciais do marido, o ex-ministro Paulo Bernardo

 

Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554

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