Nas duas vezes anteriores em que tentou a Presidência do México, Andrés Manuel López Obrador acabou sendo desprezado ao longo da campanha, fosse por sua proximidade com o falecido venezuelano Hugo Chávez, fosse por seu populismo inato. Desta vez pode ser diferente. Com a eleição marcada para 1º de julho, López Obrador, ou AMLO, suas iniciais, conta com 37% das intenções de voto e está 17 pontos porcentuais à frente do segundo colocado. Não há segundo turno. Sua notoriedade é maior no sul do país, como em Bochil, no Estado de Chiapas, onde discursou no sábado 9. Essa região mexicana é a mais distante dos Estados Unidos e, por isso, a menos desenvolvida. O chapéu de palha e o colar de flores que ostentou no evento não são o que fazem dele um populista — os paramentos são usados por políticos de qualquer partido em visita a cidades pequenas. AMLO substituiu o discurso de verniz chavista pelos ataques ao presidente americano Donald Trump. “Vamos colocá-lo em seu lugar”, prometeu. “Se ele insistir em construir o muro, vamos nos dirigir às Nações Unidas para defender os direitos dos mexicanos.” É nos ataques contra o Nafta, o tratado de livre-comércio da América do Norte, que AMLO desabrocha todo o seu populismo — e ironicamente se aproxima de Trump, que também quer rasgar o acordo. “Os defensores do atual modelo econômico falam de modernidade, mas não contam que essa modernidade é sinônimo de uma economia das elites. Eles costumam usar o acordo de livre-comércio como exemplo de suas supostas conquistas”, disse AMLO. Parece Trump falando.
Publicado em VEJA de 20 de junho de 2018, edição nº 2587