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75% dos médicos e enfermeiros de SP sofrem violência no trabalho

Pesquisa inédita, coordenada por instituições de medicina, mostrou que a violência é tanto verbal, quanto psicológica ou física

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 mar 2017, 18h29 - Publicado em 15 mar 2017, 11h47

Profissionais de saúde têm sido vítimas constantes de violência no ambiente de trabalho. Uma pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) mostrou que 75% dos médicos e enfermeiros do estado já sofreram algum tipo de violência no ambiente de trabalho. Em primeiro lugar, foram relatados casos de violência verbal, seguidos de agressão psicológica e, por fim, física.

A pesquisa foi realizada com 5.658 médicos e profissionais de enfermagem no início do ano. O levantamento concluiu que a maioria dos casos de violência ocorreu no Sistema Único de Saúde (SUS). No geral, os principais agressores foram familiares ou acompanhantes de pacientes, seguido pelos próprios pacientes, durante o atendimento.

Falta de preparo

Para Bráulio Luna Filho, conselheiro do Cremesp, os médicos não são preparados, em sua formação, para lidarem com pacientes que os contestam, o que gera conflito.

“A violência é universal, mas no sistema privado é mais comum haver uma resposta a isso, como a criação de centros de acolhimento. No SUS, não há esse suporte.”, disse Luna Filho, durante o Encontro das Comissões de Ética de Medicina e de Enfermagem.

Apesar disso, a maioria (cerca de 70%) dos profissionais não fez nenhum tipo de denúncia. As principais razões para a omissão entre os médicos foi “não acreditar que a denúncia fosse levada adiante pelas autoridades” e “dificuldades para efetivar o registro das denúncias”. Já entre os enfermeiros foi pela “ausência de políticas de proteção às vítimas” e “medo de perder o emprego”.

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Entre os enfermeiros que denunciaram, a maior parte o relatou o ocorrido para a chefia imediata, no entanto, poucos (17,4%) disseram que a situação foi resolvida. Para os médicos, foi questionado se o profissional continuou trabalhando no mesmo local: 66,5% disseram que sim, pois conseguiram superar o ocorrido. Por outro lado,  quando questionados se a violência ainda acontece no local de trabalho, 63,9% dos médicos e 62,7% dos enfermeiros entrevistados disseram que sim.

Aumento da preocupação

Pesquisas anteriores, realizadas pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), pelo Bureau of Labor Statistics, nos Estados Unidos, e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), em Portugal, mostraram um aumento crescente da violência contra profissionais de saúde nos últimos anos.

Diante desse cenário, a Joint Commission International (JCI), maior agência avaliadora da qualidade e segurança em instituições de saúde do mundo, decidiu alertar os hospitais para o problema. “Em seu novo manual de padrões de qualidade e segurança, a JCI incluiu um tópico em que hospitais devem identificar e gerenciar eventos sentinela, ou seja, aqueles que não estão relacionados diretamente à doença do paciente. Nesse item, a JCI chama atenção para caso de violência no local de trabalho, quando um profissional de saúde é agredido a ponto de morrer, ter uma lesão grave, uma perda de função ou ser submetido a uma cirurgia”, relata o médico José de Lima Valverde Filho, coordenador de acreditação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), parceiro no Brasil da JCI.

“O CBA e a JCI recomendam que os hospitais acreditados por ambas tenham programa de prevenção de violência e de tratamento e terapia para profissionais que tenham sofrido agressão”, complementa Valverde Filho.

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