A receita de sucesso para uma alimentação protetora, segundo best-seller internacional
A chave está em apostar naquilo que vem direto da natureza. O desafio é transformar a teoria em prática

De forma a pegar carona na crescente onda de preocupação com o bem-estar, as indústrias de alimentação e de suplementos são pródigas em lançar produtos capazes de operar supostos milagres. Muitos desses artigos são caros e a propaganda deles se encarrega de enfatizar o argumento de venda que parece imbatível nos dias de hoje: o de que a transformação na qualidade de vida depende desses elixires mágicos criados em laboratórios de ponta. Em matéria de alimentação, no entanto, a salvação não está em suplementos americanos, nas ervas chinesas ou nos pós do Himalaia. O caminho é bem mais simples, garantem especialistas em nutrição. Ele encontra-se na feira e no hortifrúti — e inúmeras vezes contempla ingredientes tão básicos (e esquecidos) como o arroz e o feijão.

Eis o que se tira de lição de Os Verdadeiros Superalimentos, best-seller do ativista americano Ocean Robbins em parceria com a nutricionista Nichole Dandrea-Russert que chega ao Brasil pela editora Cultrix. O título soa, de certo modo, irônico, pois faz referência a uma estratégia da bilionária indústria do bem-estar de elevar certos nutrientes ao papel de panaceia para a saúde física e mental. Ao lado das cápsulas, brotam os tais “superalimentos”, em geral itens exóticos e pouco acessíveis que, quando começam a se popularizar, perdem a cena para outro — pois a máquina desse tipo de marketing precisa rodar, criando incessantemente novos apelos de consumo. “Toda semana, um novo superalimento surge, embalado com uma aura de novidade e urgência”, observa Robbins. Pois o autor quer desmascarar essa lógica, mostrando que o que define quão positivo é um alimento não é a propaganda nem a embalagem. Na verdade, o que geralmente faz bem vem do solo, é minimamente manipulado e, muitas vezes, até cabe no bolso dos compradores.
Alho, batata-doce, castanhas, frutas silvestres, cogumelos… Esses são alguns dos eleitos pela obra, insuflados pelo conteúdo nutricional rico e a relativa facilidade de consumo. “Caso você queira apenas ter uma vida longa e saudável, ou esteja esperando sobreviver até que o Vale do Silício descubra como garantir sua imortalidade (…), uma dieta rica em verduras já pode ajudar. E muito”, escreve Robbins. Pois é, não tem mistério nem milagre alimentar.

Uma década antes de o best-seller chegar às livrarias, o Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado pelo Ministério da Saúde, já prescrevia: “Coma comida de verdade. Evite alimentos ultraprocessados”. Nas palavras do médico Carlos Monteiro, professor da USP que cunhou o termo ultraprocessados — alimentos industrializados cheios de aditivos —, isso se resume a resgatar as raízes e valorizar os pratos dos nossos avós, que vêm perdendo terreno para salgadinhos, congelados e fast food. O feijão que o diga: estima-se que a ingestão pelo brasileiro tenha caído de 23 quilos por habitante por ano de 1960 para 12 quilos em 2022.

Na teoria, fica cada vez mais claro o poder desse tipo de alimentação. O desafio, contudo, recai em botar a mão na massa e preparar café da manhã, almoço e jantar. É por isso que organizar as compras e aprender truques culinários pode fazer toda a diferença para equilibrar o cardápio. Em Os Verdadeiros Superalimentos, muito além dos capítulos dedicados aos ingredientes, reúnem-se dezenas de receitas de nomes curiosos para engajar novos e velhos cozinheiros — de simples chips de batata-doce ao elixir da vida cremoso, feito de banana, aveia e especiarias.
Retornar ao básico e prezar a natureza no prato está se tornando um mantra na ciência da nutrição. E, nesse sentido, se os autores americanos louvam o mirtilo, vale a pena lembrar que temos nossas próprias riquezas nutricionais, como a jabuticaba. “A gente tem de tudo. Frutas, sementes, raízes e hortaliças com alto poder antioxidante”, afirma a nutricionista Lara Natacci, ph.D. pela USP. E, se Robbins critica o marketing da indústria por um lado, por outro ganha força a ideia de que políticas públicas são importantes para que a comida saudável seja mais acessível que a desbalanceada. “O problema, muitas vezes, está mais no acesso à informação e no planejamento do que no custo em si”, diz Natacci. Vale a pena investir nessas receitas, sabendo que o tesouro que garante o bem-estar pode estar na feira do lado de casa.
Publicado em VEJA de 25 de julho de 2025, edição nº 2954