A tendência das balas vitaminadas
Fabricantes de confeitos apostam em versões com adoçantes e enriquecidas de suplementos alimentares para atender ao mercado de produtos com apelo saudável
Entre ursinhos de cores chamativas e minhocas de gelatina, a aposta mais recente da indústria de suplementos alimentares briga para conquistar espaço nas prateleiras de guloseimas de farmácias e lojas de conveniência. Trata-se da seleção de balas de goma enriquecidas com vitaminas C e D, além de cálcio, colágeno e outras substâncias que se promovem como essenciais à vida saudável. O setor, altamente promissor, vem crescendo no país com índices na casa dos dois dígitos e faturou 2,1 bilhões de reais em 2019. A aposta é tão alta que a multinacional espanhola Sanchez Cano, dona da Fini, investiu 60 milhões de reais em uma nova linha de fabricação de balinhas vitaminadas e criou uma marca específica para vender esses produtos no Brasil.
Tal investimento segue uma tendência mundial que já movimenta 3,1 bilhões de dólares, segundo a consultoria americana Transparency Market Research. Desde o início dos anos 2000 bastante comum nos Estados Unidos, esse mercado se alimenta da deficiência de vitaminas, como ferro e cálcio, em crianças e adultos. Por aqui, a inovação é vista com otimismo pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri). “Há interesse por se tratar de um produto novo, que não é doce mas também não é remédio”, explica Synésio da Costa, presidente da entidade.
Os nutricionistas, adequadamente atentos, jogam alguma água fria em tanta animação — e convém, realmente, encarar com preocupação um tipo de produção que, nos últimos anos, recebeu justas saraivadas de críticas de consumidores e da classe médica em razão do exagero em açúcares e corantes. “O consumo de suplementos deve obedecer a certos cuidados e estar, de preferência, sob orientação profissional”, alerta o médico Durval de Ribas Filho, presidente da Associação de Nutrologia (Abran). Altas doses de vitamina C, por exemplo, podem levar à formação de cálculos renais. Aos interessados em provar a novidade recomendam-se bom-senso, atenção às especificações na embalagem e ter em mente que, em excesso, até o mais inocente dos doces pode fazer mal.
Publicado em VEJA de 18 de março de 2020, edição nº 2678