A vacina de dose única oferece proteção sólida contra o Papilomavírus Humano (HPV), vírus que causa o câncer do colo do útero. Essa é a conclusão do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS – SAGE) que, em reunião realizada entre os dias 4 a 7 de abril, avaliou a evidência de que esquemas de dose única fornecem eficácia comparável aos de duas ou três doses. “A vacina contra o HPV é altamente eficaz para a prevenção dos sorotipos 16 e 18 do HPV, que causam 70% dos cânceres do colo do útero”, afirmou Alejandro Cravioto, presidente do SAGE.
Muitas vezes referido como um “assassino silencioso”, mas quase totalmente evitável, o câncer do colo do útero é uma doença de desigualdade de acesso. Justamente por isso, a nova recomendação do SAGE é sustentada por preocupações com a lenta introdução da vacina contra o HPV nos programas de imunização e baixa cobertura geral da população, especialmente em países pobres, responsáveis por 90% de incidência. “O SAGE incentiva todos os países a introduzir vacinas contra o HPV e priorizar a recuperação de mulheres de várias idades. Essas recomendações permitirão que mais meninas e mulheres mais velhas sejam vacinadas e, assim, evitar que tenham câncer do colo do útero e todas as suas consequências ao longo de suas vidas”, completa.
Segundo o grupo da OMS, as campanhas de vacinação devem atualizar os esquemas de dose para HPV da seguinte forma: uma ou duas doses de imunização primária de meninas de 9 a 14 anos; uma ou duas doses para mulheres jovens de 15 a 20 anos; e duas doses com intervalo de 6 meses para mulheres com mais de 21 anos. Indivíduos imunocomprometidos, incluindo aqueles com HIV, devem receber pelo menos duas doses, se possível, três. Há evidências limitadas sobre a eficácia de uma dose única para este grupo.
“Acredito firmemente que a eliminação do câncer do colo do útero é possível. Em 2020, a Iniciativa de Eliminação do Câncer Cervical foi lançada para enfrentar vários desafios, incluindo a desigualdade no acesso a vacinas. Essa recomendação de dose única tem o potencial de nos levar mais rápido ao nosso objetivo de ter 90% das meninas vacinadas aos 15 anos até 2030”, disse Princesa Nothemba Simelela, Diretora-Geral Adjunta da OMS.
Globalmente, a cobertura nos países tem sido muito inferior à meta de 90%. Em 2020, a cobertura global com duas doses foi de apenas 13%. Vários fatores influenciaram esse problema, inclusive desafios de fornecimento e custos relacionados à entrega para meninas mais velhas, que normalmente não fazem parte dos programas de vacinação infantil. Soma-se ao custo relativamente alto das vacinas contra o HPV, principalmente para países de renda média. “Precisamos de compromisso político complementado com caminhos equitativos para a acessibilidade da vacina contra o HPV. Não fazer isso é uma injustiça para a geração de meninas e mulheres jovens que podem estar em risco de câncer do colo do útero”, acrescenta Princesa.
Mais de 95% do câncer de colo do útero é causado pelo HPV sexualmente transmissível, sendo o quarto tipo de câncer mais comum em mulheres em todo o mundo. A boa notícia é que a dose única da vacina é menos dispendiosa, consome menos recursos e é mais fácil de administrar. Facilita a implementação de campanhas de recuperação para várias faixas etárias, reduz os desafios ligados ao rastreamento de meninas para a segunda dose e permite que os recursos financeiros e humanos sejam redirecionados para outras prioridades de saúde.