A pílula anticoncepcional, motor da revolução sexual deflagrada nos anos 1960, fez com que o orgasmo deixasse de ser associado ao risco de gravidez. Foi uma libertação para o prazer da mulher. No entanto, a responsabilidade de evitar a gestação tornou-se, culturalmente, um encargo feminino. As alternativas disponíveis para os homens sempre foram limitadas ao uso de preservativo ou à realização de vasectomia. Vive-se a antessala de novos tempos. Um estudo liderado por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde, dos Estados Unidos, aponta o surgimento de outro método: um gel que interrompe a produção de espermatozoides.
Chamado NES/T, o produto em análise, caso chegue ao mercado, será aplicado nas costas e nos ombros do homem. A formulação é composta de progestina, derivada do hormônio feminino progesterona, e de testosterona, o hormônio masculino. O papel da progestina é suprimir a produção de espermatozoides. O da testosterona é de reposição, evitando a baixa de libido e a perda muscular causada pelo composto feminino. “Há décadas os pesquisadores tentam uma fórmula anticoncepcional para os homens, mas até agora todas falharam”, diz o urologista Celso Gromatzky, do Hospital Sírio-Libanês. O maior problema era o alto índice de infertilidade provocado pelos medicamentos em teste. Aparentemente, o NES/T não ocasiona esse tipo de efeito colateral. O próximo passo é realizar uma investigação mais ampla. Os resultados finais devem ser divulgados em três anos.
Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613