Uma análise publicada nesta quarta-feira no periódico PLoS Medicine sugere que o diclofenaco, um anti-inflamatório não esteroide, deixe de fazer parte das listas nacionais de medicamentos essenciais devido ao seu alto risco cardiovascular. Os autores do trabalho também afirmam que seria importante que as autorizações para o marketing do remédio ao redor do mundo fossem revogadas. “O diclofenaco não oferece maiores vantagens em termos de segurança gastrointestinal. Dada a disponibilidade de alternativas mais seguras, o remédio deveria ser removido da lista de drogas essenciais dos países”, escreveram os pesquisadores.
Conheça a pesquisa
ONDE FOI DIVULGADA: periódico PLoS Medicine
QUEM FEZ: Patricia McGettigan e David Henry
INSTITUIÇÃO: Instituto de Pesquisa William Harvey, Londres, e Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, Canadá.
RESULTADO: O diclofenaco não apresenta maior segurança gastrointestinal do que outros anti-inflamatórios não esteroides. No entanto, promove um risco cardiovascular maior do que os outros, e semelhante ao apresentado pelo Vioxx, remédio que saiu de circulação devido ao seu risco ao coração. O diclofenaco é amplamente utilizado ao redor do mundo e chega a ser o anti-inflamatório não esteroide mais usado em alguns países. Por esse motivo, a análise sugere que o medicamento deixe de fazer parte das listas nacionais de drogas essenciais.
Os anti-inflamatórios não esteroides são uma classe de medicamentos prescritos para controlar a dor, a febre e a inflamação. Também fazem parte dessa classe drogas como o ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno e o naproxeno. De acordo os autores do trabalho, já é sabido há algum tempo que alguns anti-inflamatórios não esteroides elevam o risco de uma pessoa sofrer algum evento cardiovascular, como ataque cardíaco ou derrame cerebral. E, da mesma forma, os especialistas também sabem que o diclofenaco parece aumentar essa chance mais do que outros remédios do tipo, como o naproxeno, por exemplo. Mesmo assim, em países como Canadá e Inglaterra, o diclofenaco é prescrito até três vezes mais do que o naproxeno.
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Perigo conhecido – Ainda de acordo com o trabalho, o risco cardiovascular do diclofenaco é equivalente ao apresentado pelo Vioxx (rofecoxib), que um dia já foi o anti-inflamatório mais vendido no Brasil e cuja venda foi proibida em 2004 justamente pelo risco que apresentava ao coração. Segundo um estudo feito em 2000 pelo próprio fabricante do Vioxx, o laboratório Merck & Co., o consumo diário de 24 miligramas da droga por mais de 18 meses dobrava as chances de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A análise publicada nesta terça-feira avaliou os medicamentos utilizados em 15 países de diferentes níveis socioeconômicos e descobriu que o diclofenaco é o anti-inflamatório não esteroide mais utilizado em todos eles. De acordo com a pesquisa, o diclofenaco também faz parte da lista de remédios essenciais de 74 países de baixa, média e alta renda.
A análise foi feita por especialistas do Instituto de Pesquisa William Harvey, em Londres, e do Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, no Canadá. Os autores acreditam que esses dados revelam que os riscos associados ao diclofenaco não estão sendo passados para a população de uma forma clara e eficiente.
Opinião do especialista
Carlos Alberto Machado
Cardiologista e diretor de de promoção de saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia
“Todo anti-inflamatório não esteroide apresenta um risco para a saúde cardiovascular, mas cada um o faz com intensidades diferentes. Isso porque esses remédios inibem a dilatação dos vasos e, portanto, podem impedir que a artéria permaneça aberta. Além disso, esses medicamentos danificam os rins, especialmente dos idosos, que compõem a maioria dos pacientes que fazem uso dessa droga.
O diclofenaco é um dos anti-inflamatórios não esteroide mais antigos e, portanto, um dos mais receitados. O fato de ele apresentar um risco maior do que os outros não quer dizer que os cuidados com o uso desses remédios devam ser diferentes. Os cuidados são um só.
Assim, e isso vale para todos os anti-inflamatórios não esteroides, o paciente que fizer uso de um medicamento do tipo deve ter um acompanhamento médico e não pode tomar o remédio por um tempo prolongado e de forma indiscriminada. Além disso, o médico deve informar o indivíduo sobre os riscos da droga. Penso que esses medicamentos deveriam ser vendidos somente com a apresentação da receita médica.”