Na última quarta-feira, 29, a ugandesa Safina Namukwaya deu à luz gêmeos, aos 70 anos de idade. Ela passou por um tratamento de fertilização in vitro na capital de seu país, Kampala, e é uma das mulheres mais velhas a ter filhos através do procedimento.
Edward Tamale Sali, especialista em fertilidade do Women’s Hospital International and Fertility Center (WHI&FC), que realizou o tratamento, disse à BBC que a mãe usou um óvulo de um doador e o esperma de seu parceiro para o procedimento de fertilização in vitro (FIV). Os bebês nasceram prematuramente com 31 semanas, foram colocados em incubadora e atualmente estão “estáveis”.
Safina disse ao jornal Daily Monitor, periódico da Uganda, que a sua gravidez tinha sido difícil porque o seu parceiro a abandonou quando percebeu que ela ia ter gêmeos. “Os homens não gostam que lhe digam que você está grávida de mais de um filho. Desde que fui internada aqui, meu homem nunca apareceu”, disse ela.
Este é o segundo parto de Safina em três anos – ela deu à luz uma menina em 2020. Ser ridicularizada por não ter filhos foi o que a motivou a buscar tratamento. “Eu cuidava dos filhos das pessoas e os via crescer e me deixar em paz. Eu me perguntava quem cuidaria de mim quando eu envelhecesse”, disse ao Daily Monitor.
O caso é raríssimo, porém, o recorde ainda fica com a indiana Mangayamma Yaramati, que, em 2019, deu à luz a gêmeos, aos 73 anos, após tratamento de fertilização in vitro.
Como foi possível?
Ao contrário de um homem, que pode fabricar um novo lote de esperma a cada 72 dias, a mulher nasce com todos os óvulos que terá na sua vida (aproximadamente de 1 a 2 milhões).
Esse valor cai para entre 300 mil e 500 mil na puberdade e, a partir daí, continua sua trajetória descendente. Quando uma mulher chega aos 37 anos, sua contagem de óvulos cai para 25 mil, e aos 50, que é a idade média da menopausa, ela tem no máximo mil óvulos em seus ovários.
No entanto, não é apenas uma questão de números. Também é uma questão de qualidade, porque aos 45 ou 50 anos, a maioria dos óvulos que permanecem nos ovários são cromossomicamente anormais. Nesse contexto, surge a fertilização in vitro.
Durante o processo, um óvulo é removido dos ovários da mulher e fertilizado com espermatozoides em laboratório. O óvulo fertilizado, chamado embrião, é então colocado no útero da mulher para crescer e se desenvolver.
“Ela tinha que usar óvulos doados, se não seria quase impossível. Porque há uma diferença entre gestar e reproduzir: se o útero está em ordem, qualquer mulher, em teoria, pode gestar”, explica Edson Borges Jr, diretor científico do Instituto Sapientiae e diretor médico do FERTGROUP, que abrange sete clínicas de reprodução pelo país. “Porém, há riscos. Quanto maior a idade, maior a chance de problemas vasculares, aterosclerose, diabetes, hipertensão, entre outros”.
O Conselho Federal de Medicina, em resolução de 2022, sugeriu a idade limite das candidatas à gestação por reprodução assistida em 50 anos, permitidas exceções com base em critérios fundamentados pelo médico responsável relacionados à ausência de comorbidades não ligadas a infertilidade.
“A ocorrência de casos como esse se dá bastante em países africanos e na Índia, pela cultura”, afirma Borges Jr. “Já recebemos muitos pacientes desses países que relatam serem vistas como pária em suas sociedades. Para elas, gestar é uma necessidade social”.
Apesar disso, o Brasil também vê um aumento de mulheres com idade avançada na fila do tratamento. “É um movimento crescente, pois o pensamento mudou. A expectativa de vida avançou e as prioridades puderam ser espaçadas também”. O recorde de sua clínica, Fertility, é de uma mulher brasileira que, aos 61 anos, teve um menino, há sete anos.