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Aparelhos para ozonioterapia geram compostos indesejados, aponta estudo

Em interação com ar ambiente, ozônio pode virar produto tóxico; terapia não recomendada por médicos foi liberada no Brasil

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 out 2023, 08h00

Antes mesmo de sua liberação no Brasil por sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto deste ano, a ozonioterapia – terapia com aplicação de uma mistura dos gases ozônio e oxigênio – já era tratada como um método sem eficácia científica por entidades médicas e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Diante da polêmica iniciada na pandemia de Covid-19, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) resolveram se aprofundar no tema em um estudo com os aparelhos utilizados na terapia, os ozonizadores, e descobriram que eles podem gerar compostos indesejados em contato com o ar ambiente, um risco para as pessoas expostas durante o uso terapêutico.

A ozonoterapia consiste na aplicação de uma mistura dos gases ozônio e oxigênio e, no Brasil, tem autorização para aplicação no Brasil apenas para a odontologia e fins estéticos. Ela costuma ser apresentada como um tratamento com supostos efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e anti-infecciosos e a aplicação ocorre por via subcutânea, venosa, retal, intramuscular ou local. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM) é considerada um procedimento experimental e não é “válida para nenhuma doença”.

No estudo, os pesquisadores verificaram a eficácia dos ozonizadores ao longo de 18 meses não só para o uso terapêutico, mas para o processo desinfecção de ambientes médico-hospitalares, que se popularizou na pandemia. A preocupação do grupo era observar a concentração de ozônio eliminada, tendo em vista que o gás é reativo e pode causar problemas respiratórios e cardíacos quando as pessoas são expostas a concentrações elevadas.

“Quando o uso se popularizou, a gente começou a se interessar e fazer o protocolo para avaliar os ozonizadores e saber a produção real de gás, porque, quando eles são comprados, o fabricante tem de garantir a concentração de ozônio que o equipamento vai liberar em função do que o operador quiser aplicar. Mas ele deve fazer o uso correto para saber se está aplicando de forma adequada”, explica Marçal José Rodrigues Pires, coordenador do Laboratório de Química Analítica Ambiental da PUC-RS.

Um problema é que a regulamentação dos aparelhos é para a aplicação prevista pela Anvisa e não para os demais usos oferecidos no mercado. “Esses ozonizadores são de pequeno porte e precisariam ter uma certificação, mas as empresas emitem autodeclaração. Além disso, em ambiente fechado, outros países recomendam concentrações máximas de ozônio e não temos legislação no Brasil.”

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Diante desse cenário, os pesquisadores verificaram que a falta de padronização dos aparelhos e a possibilidade de aplicação em diferentes concentrações podem colocar em risco pacientes e profissionais. “Em ambientes internos, como clínicas, a concentração aumenta rapidamente. A aplicação mais comum é tópica e, como é um reagente, trata-se de um composto demanda muito cuidado com a manipulação. Isso sem falar no
problema imediato: se houver algum vazamento de ozônio, as pessoas vão respirar um gás que é considerado um poluente de ar externo.”

Pires diz que, o contato com o ar ambiente, leva à produção de compostos indesejados e que podem ser prejudiciais. “Para produzir o gás, precisa do ozonizador, mas o ozônio reage com o ar e forma produtos tóxicos, como ácidos nítrico e nitroso. É uma situação preocupante no caso de uso terapêutico ou estético.”

No caso da desinfecção de ambientes, pessoas não devem permanecer nos locais até a completa dissipação do gás. “Tem de esperar que o ozônio seja degradado. Por sorte, ele não é persistente e desaparece se o local ficar ventilado por quatro ou cinco horas.” O coordenador completa que profissionais que ficam expostos ao ozônio com frequência também precisam estar atentos. “O risco é por concentração e tempo. Se uma pessoa ficar exposta oito horas por semana, vai ter problemas ligados a esse tipo de poluição.”

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arte ozonioterapia
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