Apenas 8% dos casos de coronavírus foram notificados no Brasil, estima um novo estudo. Isso significa que o número real de casos no país pode ser até 12 vezes maior do que o que foi divulgado pelas autoridades e corresponde a mais de 235.000 infectados. A conclusão é de um estudo realizado pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), que reúne médicos, pesquisadores e epidemiologistas da USP, Fiocruz, PUC-Rio, entre outros centros de pesquisa, que busca fornecer dados para estimar a dimensão real da Covid-19 no país.
Os dados são referentes até a última sexta-feira 10, quando, de acordo com o Ministério de Saúde, 19.638 pessoas haviam sido contaminadas pelo novo coronavírus.
Para chegar ao número, a pesquisa seguiu três passos: utilizou dados de outros países que estão à frente no contágio para estimar a letalidade esperada da doença no Brasil; calculou a letalidade observada – ou seja, o número de mortes acumulado, dividido pelos casos estimados com desfecho de recuperação ou de morte; por fim, compararam os dois números. Quanto maior a diferença entre as duas taxas, menor a taxa de notificação. Portanto, maior a taxa de subnotificação.
Nessas condições, o Nois observou que a taxa de letalidade observada do Brasil para os casos que já tiveram desfecho, ou seja, pacientes que morreram ou se recuperaram, está em 16,3%. Mas que deveria ser de 1,3%, baseado na experiência de outros países e ajustando para a pirâmide demográfica brasileira. “Pelo fato de o Brasil ter uma população mais jovem do que Itália ou Espanha e pelo país ter reportado os primeiros casos mais tardiamente, a taxa de letalidade observada deveria ser muito menor”, explicou Marcelo Prado, um dos pesquisadores do Núcleo, em entrevista a VEJA.
Isso não significa que a doença é mais letal no Brasil e sim que há uma subnotificação no número de casos. A única forma de resolver esse problema é aumentar o número de testes realizados no país. “Com taxas de notificação mais elevadas, será possível uma melhor avaliação da necessidade de recursos hospitalares (leitos de UTI, ventilação mecânica, etc.). Outro ponto fundamental é que as políticas de isolamento de infectados poderão ser mais efetivas, ao identificar locais de maior prevalência da epidemia”, conclui o estudo.