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Seis pacientes são infectados com HIV em transplantes de órgãos no Rio de Janeiro

Secretaria de Estado da Saúde classificou episódio como 'inadmissível' e abriu sindicância; episódio desse tipo é o primeiro registrado no país

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 out 2024, 15h48 - Publicado em 11 out 2024, 11h13

Seis pacientes submetidos a transplantes de órgãos no estado do Rio de Janeiro foram infectados por HIV, vírus causador da aids, e uma sindicância foi instaurada pela Secretaria de Estado da Saúde para apurar o caso. A informação foi divulgada pela Band News FM Rio e confirmada por VEJA. A pasta classificou o episódio como “inadmissível” e criou uma comissão multidisciplinar para dar suporte aos transplantados. O Brasil realiza transplantes de órgãos desde a década de 1960 e este é o primeiro caso de infecções por HIV neste tipo de procedimento no país.

Os testes para detecção de infecções nos doadores foram realizados pelo laboratório privado PCS LAB Saleme, de Nova Iguaçu, contratado em dezembro do ano passado por meio de uma licitação realizada pela Fundação Saúde. Segundo a secretaria, o serviço foi suspenso assim que houve a confirmação dos casos e a unidade foi interditada. Os testes estão sendo feitos agora pelo Hemorio.

Em entrevista à rádio, a secretária estadual da Saúde do Rio de Janeiro, Claudia Mello, informou que a primeira notificação ocorreu em 13 de setembro e todos os exames foram transferidos para o Hemorio. No último dia 2, ocorreu a segunda confirmação. Os testes iniciais, realizados pelo laboratório antes do transplante, tiveram resultado negativo. Depois, houve a confirmação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Ministério da Saúde já foram notificados.

Posicionamento do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde, em nota, manifestou seu apoio irrestrito aos pacientes e suas famílias. A pasta declarou que a situação está sendo tratada com extrema seriedade, adotando medidas imediatas para garantir a segurança dos transplantados e a integridade do sistema nacional de transplantes. Entre as ações, o laboratório responsável pelos testes, PCS LAB Saleme, foi interditado, e o Hemorio assumiu a testagem dos doadores no estado. Ao mesmo tempo, foi determinada a retestagem de todas as amostras coletadas anteriormente para evitar novos falsos negativos.

Também foi anunciada a instalação de uma auditoria no sistema de transplantes do Rio de Janeiro e o reforço das normas de segurança em todo o país. Segundo a pasta, essas medidas visam proteger a confiança da população no sistema de doação de órgãos, que segue rígidos protocolos para evitar a transmissão de doenças infecciosas.

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Em comunicado, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reforçou o compromisso com os pacientes: “Esta é uma situação extremamente grave, e estamos atuando com rapidez para garantir que todas as pessoas afetadas, tanto os receptores quanto seus familiares, recebam o apoio necessário. Nossa prioridade é garantir a saúde e o bem-estar dos pacientes, ao mesmo tempo que tomamos todas as medidas necessárias para apurar e corrigir qualquer irregularidade.

No período de dezembro do ano passado a setembro deste ano, houve 288 doadores e dois deles testaram positivo para HIV. Antes dos transplantes, as amostras tiveram resultado negativo. Agora, diante da confirmação de infecções pelo vírus, as 286 amostras com resultado negativo estão sendo retestadas.

A pasta informou que a sindicância aberta terá como objetivo “identificar e punir os responsáveis”. “A Secretaria de Estado da Saúde considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados”, informou, em nota.

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De acordo com a secretaria, o serviço de transplantes do estado “sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que instaurou um inquérito civil para investigar as irregularidades e que o procedimento está sob sigilo. O caso será apurado pela 5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Saúde da Capital e as informações serão encaminhadas à Secretaria de Estado da Saúde.

“O MPRJ ressalta que está à disposição para ouvir as famílias afetadas, receber denúncias de quem se sentir lesado e prestar atendimento individualizado às partes envolvidas”, disse, em nota.

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Episódio raro

Coordenadora da Comissão de Infecção em Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Lígia Pierrotti explica que a contaminação dos pacientes é um caso raro e sem precedentes.

“Isso não é para acontecer, porque o processo de doação de órgãos para transplantes segue uma norma muito rigorosa com rastreio para HIV, hepatites, doença de Chagas e outros vírus e infecções com testes sorológicos de alta qualidade. É muito raro ter uma transmissão de agentes atípicos. O Brasil reconhecimento mundial na realização de transplantes.”

Segundo Lígia, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) também atua com normas rigorosas e afirmou que os casos registrados no Rio de Janeiro desencadearam a rápida atuação da Anvisa, além acionamento de todas as centrais de transplantes do país, que estão cientes do caso.

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Ela diz que a prioridade tem de ser para o atendimento dos transplantados e investigação do caso. “Este é um evento adverso gravíssimo. Sempre um caso de transmissão tem de ser investigado e é necessário dar todo apoio e tratamento a esses pacientes.”

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