Mulheres cujos trabalhos demandam carregar peso ou que são realizados em turnos durante a noite podem ter problemas de fertilidade. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores de Harvard, nos Estados Unidos, publicado recentemente no periódico científico Occupational and Environmental Medicine.
“Nosso estudo sugere que as mulheres que estão planejando uma gravidez devem estar cientes dos potenciais impactos negativos que trabalhos não diurnos ou que exijam levantamento de peso podem ter em sua saúde reprodutiva”, diz Lidia Mínguez-Alarcón, principal autora do estudo e pesquisadora do Departamento de Saúde Ambiental de Harvard.
De acordo com os pesquisadores, o novo estudo é um dos primeiros a analisar se fatores do ambiente de trabalho podem afetar a capacidade biológica de uma mulher ter um bebê. Para isso, a pesquisa focou em mulheres que já estavam em tratamento para infertilidade.
Ambiente de trabalho e fertilidade
Lidia e sua equipe examinaram indicadores de “reserva ovariana” – quantidade de óvulos remanescentes e níveis do hormônio folículo estimulantes (FSH) – em 473 mulheres que procuraram tratamento no Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. Todas as participantes tinham, em média, 35 anos e índice de massa corporal (IMC) considerado normal. Os pesquisadores observaram também a “resposta ovariana” – número de óvulos maduros capazes de se desenvolver em embriões saudáveis – em 313 destas mulheres que haviam completado ao menos um ciclo de fertilização in vitro (FIV).
Além das análises clínicas, as participantes responderam questões sobre demanda física e trabalho em turnos em seus empregos, além da prática de atividade física nas horas vagas.
Os relatos mostraram que 40% das mulheres precisavam levantar objetos pesados durante o trabalho. Cerca de 25% delas disseram que seu trabalho era moderada ou muito exigente fisicamente. E aproximadamente 91% das voluntárias trabalhavam em horário comercial.
Menor quantidade e qualidade dos óvulos
O estudo concluiu que trabalhos fisicamente exigentes não pareceram afetar os níveis do hormônio FSH. Mas, mulheres que precisavam levantar muito peso em seus empregos tinham menor reserva ovariana, em comparação com aquelas cujos trabalhos demandavam menos esforço físico.
Em média, as mulheres que trabalhavam em turnos tinham menos óvulos maduros do que as mulheres que trabalhavam em horas regulares. Aquelas que trabalhavam em turnos no fim do dia ou noturnos tinham uma contagem de óvulos ainda menor. Os pesquisadores acreditam que horários de trabalhos desregulares afetam a contagem de óvulos maduros devido à interrupção do relógio interno do corpo.
Entre as participantes que passaram por ciclos de FIV, as que tinham um trabalho fisicamente exigente apresentaram uma reserva ovariana 8,8% menor e uma quantidade de óvulos maduros 14,1% menor do que aquelas cujos trabalhos não exigiam levantamento de peso.
As diferenças na reserva e resposta ovariana em mulheres com e sem ocupações fisicamente exigentes foram ainda maiores entre aquelas cujo emprego exigia que elas trabalhassem em turnos no fim do dia, noturnos ou rotativos. A diminuição da fertilidade foi particularmente significativa entre as mulheres com excesso de peso e obesas que levantavam cargas pesadas no trabalho, em comparação com aquelas de mesmo peso e mulheres magras que não faziam trabalhos pesados como parte de sua ocupação.
Ressalvas
“Nosso estudo é o primeiro a mostrar que o trabalho pesado e em turnos fora de horários regulares pode afetar negativamente a produção e a qualidade dos óvulos, em vez de acelerar o envelhecimento ovariano. Trabalhos futuros, no entanto, são necessários para determinar se a produção e a qualidade dos óvulos pode ser melhorada, e se sim, com que rapidez, se essas exposições laborais forem evitadas. “
Como o estudo é apenas observacional, nenhuma conclusão de causa e efeito pode ser extraída. A equipe também foi incapaz de avaliar o impacto de outros fatores possivelmente influentes na fertilidade, como trabalhar longas horas e alternar entre turnos diários e noturnos.