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Células CAR-T: a última novidade da mais promissora terapia contra o câncer

Estudo revelou uma inédita remissão de longo prazo para um tipo de tumor pediátrico

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 fev 2025, 18h45 - Publicado em 17 fev 2025, 18h11

No início da década de 1990, na esteira de uma onda então incipiente de engenharia celular, o pesquisador israelense Zelig Eshhar decidiu testar algo que, até aquele momento, era impossível: modificar células imunes para que, ao invés de buscar patógenos, elas pudessem reconhecer tumores. A ideia funcionou, dando origem, em 1993, às primeiras células CAR-T, conhecidas hoje como uma das tecnologias mais promissoras para o tratamento do câncer – e que, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira, 17, pode levar à remissão prolongada de tumores antes sem tratamento. 

A novidade foi publicada na revista Nature Medicine e descreve um caso de remissão que já dura quase duas décadas. O paciente foi tratado aos 4 anos de idade para um neuroblastoma refratário, ou seja, que não apresentava resposta ao tratamento, e recidivado, indicando que a doença reaparecia após ter sido eliminada pelos métodos convencionais. “Em conclusão, este estudo descreve, até onde sabemos, a sobrevida mais longa já relatada após terapia com CAR-T”, escrevem os autores. “Demonstrando que a terapia […] pode, com segurança, proporcionar mais de 18 anos de remissão completa […], sem evidência de malignidade ou outras sequelas de longo prazo.”

As células CAR-T sempre levam a uma longa sobrevida?

O estudo acompanhou dezenove pacientes tratados com células CAR-T, sendo dezoito deles pediátricos. De todos eles, doze faleceram até sete anos após o tratamento, mas todos os outros sete sobreviveram, dois deles sem apresentar recidivas. “Esse artigo reabre fronteiras para acelerar a utilização da terapia CAR-T para o neuroblastoma e outras neoplasias do Sistema Nervoso Central”, disse Otávio Baocchi, onco-hematologista e chefe do Centro Especializado em Linfoma e Mieloma do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista a VEJA. 

O trabalho foi especialmente interessante para os pesquisadores por jogar luz sobre a eficiência da primeira geração de células CAR-T. Embora funcionais e mais baratas, essas células ainda não eram tão efetivas quanto as que estão sendo estudadas atualmente e, ainda assim, conseguiram demonstrar bons resultados. 

Um outro fator também chamou atenção. As células CAR-T continuaram presentes no sangue de boa parte dos pacientes que sobreviveram por pelo menos cinco anos, o que sugere que esses elementos imunes modificados podem agir a longo prazo para proteger contra o retorno do tumor. “Esse estudo é um marco muito significativo na área de imunoterapia do câncer”, disse o especialista em terapia celular Bruno Solano, pesquisador da Idor Ciência Pioneira e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. “Remissão de mais de 18 anos é algo inédito para tumores sólidos.”

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O estudo é particularmente animador para neuroblastomas, um tipo de tumor maligno que atinge, especialmente, crianças de até 7 anos. “O tratamento do neuroblastoma é talvez o mais multimodal que existe na oncologia pediátrica”, disse Nathalia Halley Neves, oncologista pediátrica, especialista da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, a Veja Saúde. “Devido à sua agressividade, diversos são os esquemas de tratamento que incluem quimioterapia, cirurgia, radioterapia, transplante autólogo de medula óssea e imunoterapia, na era mais recente dos tratamentos. Todas essas fases de tratamento só podem ser realizadas e ter sequência com a resposta do tumor à fase anterior.”

O que são as células CAR-T?

As células CAR-T são construídas com base nos linfócitos T, um tipo de célula imune que reconhece e age contra microrganismos. Para que isso ocorra, esses corpos do sistema imune possuem pequenas moléculas na sua superfície que conseguem reconhecer os corpos estranhos que precisam ser eliminados. 

Para criar as células CAR-T, os pesquisadores removem os linfócitos T do corpo do indivíduo e fazem uma série de modificações nessas células – uma delas insere o que os cientistas chamam de receptor de antígeno quimérico, um jeito complicado de dizer que, ao invés de reconhecer vírus e bactérias, agora essa célula vai detectar porções do tumor, o que possibilita a eliminação da doença. 

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O principal benefício está em se tratar de uma terapia personalizada, que consegue ser adaptada para cada paciente. Mas não é tão simples. “Apesar de seus benefícios, a terapia CAR-T também apresenta desafios, como efeitos colaterais potencialmente graves”, explica Baocchi. “O enfrentamento dessas complicações tem levado à inovação em estratégias de gestão e mitigação de riscos.”

Hoje, esse tipo de terapia começa a ser utilizado de maneira mais ampla para o tratamento de cânceres do sangue, como linfomas e leucemias, mas o aprimoramento tecnológico também tem permitido resultados promissores em tumores sólidos, como cânceres de próstata e pulmão. 

“A tendência é que as terapias CAR-T se tornem mais populares e disseminadas”, diz Solano. “O desafio é aprimorar essa tecnologia para que ela se torne ainda mais eficaz e possa chegar a mais pacientes, em especial aqueles com tumores agressivos e resistentes ao tratamento, além do uso com as doenças autoimunes.”

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Com reportagem de Larissa Beani, da Veja Saúde

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